quarta-feira, 29 de julho de 2009

O que fazer para se tornar um treinador de futebol?

Para ser treinador de futebol do século XXI (e não no século XXI) serão necessários muitos estudos e anos de dedicação

Nos cursos de Educação Física sempre me deparo com fantásticos alunos que desejam ser treinadores de futebol. Também, com certa frequência recebo e-mails de jovens que me indagam sobre como ser um treinador de futebol, ou mesmo se tenho contatos com pessoas do meio futebolístico para arrumar-lhes oportunidades de estágio e emprego.

Assim, a pergunta que não quer calar seria: o que fazer para se tornar um treinador de futebol? Principalmente em um país em que ainda impera o tradicionalismo e o conservadorismo quando o assunto é futebol.

Além do fato incontestável de que, em sua maioria, a gestão do futebol está nas mãos de pessoas reacionárias que, obviamente, não querem mudanças, logo os revolucionários devem ser sufocados e suas idéias impedidas de propagação.

Esta estóica conjetura privilegia apenas os que possuem capital simbólico. E este capital simbólico não é obtido na universidade (nesta seara se obtém o capital intelectual), e sim no campo de jogo no seio de uma sociedade mitificadora (que depende de mitos).

Capital, segundo o Houaiss, significa “de relevo; principal, fundamental”, ou seja, estou querendo dizer que do modo como o futebol está sendo gerido, apenas os ex-jogadores, e famosos (de relevância, com capital simbólico), têm a oportunidade de se candidatar ao cargo de treinador.

Não é necessário estudar, preparar-se... e sim apenas aproveitar a oportunidade, ganhando jogos e se mantendo na ciranda (ou dança das cadeiras) dos palcos que se transformam os bancos de reservas dos estádios.

Sendo assim, só posso entender que existe um cenário interessante para a eclosão de uma revolução, não anárquica, mas inteligente, que poria fim às injustiças impostas por esta forma de gestão.

Digo injusta, pois esta visão tradicional, primeiro, exclui os que não têm dom, pois não pode ser jogador de futebol quem não recebeu os talentos divinos ou genéticos, e, na sequência, só pode ser treinador quem foi jogador de sucesso.

Ou seja, é preciso ser dotado de muita resignação para não aderir a esta revolução. Só mesmo tomando muito “alienol” para se manter neste estado letárgico de alienação.

Nada diferente das fábulas proféticas relatadas no começo do século XX, nos clássicos livros “Admirável mundo novo” e “A Ilha”, por Aldous Huxley, onde a resignação era quimicamente controlada por substâncias alienantes como o soma e o moksha.

Porém, só os “cegos” e os que ignoram o conhecimento científico, para não perceber as mudanças paradigmáticas que estão em curso.

Nos tempos atuais, emergem mudanças sistêmicas que, de modo avassalador, irão levar à extinção àqueles que não se adaptarem às novas exigências, agora democráticas, da profissão de treinador de futebol.

Democráticas, pois, nesta perspectiva, ser treinador de futebol não será mais determinado pelos “genes” futebolísticos ou mesmo, por pura vocação divina.

Para ser treinador de futebol do século XXI (e não no século XXI) serão necessários muitos estudos e anos de dedicação, para aquisição de saberes que levem à edificação de competências e habilidades requeridas às novas funções dos gestores de campo.

A pergunta, logo, muda. Passa de o que fazer para o que estudar, se se almeja ser treinador de futebol?

Minha sensibilidade, advinda do acúmulo de conhecimentos e experiências no meio futebolístico, diz que talvez os estudos devam começar pelas ciências humanas (a filosofia, a psicologia, a pedagogia, a sociologia, a história, a administração, a motricidade humana...).

De forma semelhante, relata de próprio punho o revolucionário treinador José Mourinho, em um capítulo do livro Motrisofia (obra organizada que reúne uma diversidade de autores comprometidos em homenagear o filósofo Manuel Sérgio).

Ele escreve: “Fiz o curso de Educação Física há mais de 20 anos, onde no meu primeiro ano conheci o Prof Manuel Sérgio. Tinha uma convicção, queria ser treinador de futebol, mas na minha época estava no auge estudar Matveyv, porém a teoria do treinamento desportivo positivista não se alinhava a minha forma de pensar. Foi aí que o Prof. Manuel Sérgio me ensinou que para ser aquilo que eu queria ser, teria de ser um especialista na área das ciências humanas. Foi assim que aprendi que um treinador de futebol que só perceba de futebol, de futebol nada sabe. Se sou um treinador singular é porque não me esqueço das lições sobre emancipação e libertação. É preciso ser livre para fazer o novo... até no futebol”.

Para interagir com o autor: alcides@universidadedofutebol.com.br

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A trajetória do treinamento desportivo: do empirismo ao cientificismo


Compreensão da evolução a partir de cinco períodos: da arte; da improvisação; da sistematização; pré-científico e cientifico
Fernando Ianni

A evolução do treinamento desportivo tem seus alicerces fundamentados na cultura grega. A necessidade de se organizar métodos de treinamento surgiu de maneira gradativa, sempre atendendo as necessidades especificas da época em que se vivia (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; HERNANDES JR., 2002).

O planejamento do treinamento naquela época (Grécia antiga) consistia em uma preparação geral com um misto de corridas, marchas, jogos, lutas, danças e uma preparação específica, onde os atletas trabalhavam com sobrecargas, como sacos de areia, pesos e pedras. O treinamento obedecia a uma rotina cíclica de quatro dias, que eram os chamados tetras, os quais eram repetidos indefinidamente durante toda a vida do atleta. Era o chamado “treinamento total”, feito pelos gregos há quase 2800 anos. A carga de treinamento era forte, e era comum o caso de mortes de atletas (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978).

Em 1896, com a retomada dos Jogos Olímpicos, atletas e treinadores retornaram aos treinos e buscou-se cada vez mais os métodos que visassem à melhora na performance física e técnica (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978). Segundo Pierre de Coubertin, citado por Hernandes Jr. (2002), o lema do esporte amador era “O essencial não é vencer, mas competir com lealdade, cavalheirismo e valor”. No início dos anos 30, Adolf Hitler utilizou os jogos de Berlim (1936) para divulgar sua ideologia nazista, organizando uma grande e eficiente infra-estrutura de treinamento para que através desse treinamento, eles obtivessem a maioria das medalhas disputadas. Este foi o primeiro relato de treinamento desportivo visando à competição.

A evolução do treinamento desportivo pode ser dividida em cinco fases para melhor compreensão: A) Período da Arte; B) Período da Improvisação; C) Período da Sistematização; D) Período Pré-Científico; E) Período Cientifico (TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

O Período da Arte compreende os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga a partir de 776 a.C. até as primeiras olimpíadas da era moderna em Atenas em 1896. Os treinamentos eram conduzidos de uma forma global. Esses treinamentos eram baseados em experiências subjetivas de cada treinador. Os conteúdos eram extenuantes, tinha-se a idéia de que quanto mais difícil for o treino, mais dor o atleta sentir, melhor. Um relato dizia que os gregos usavam algumas poções elaboradas com ervas, para aumentar o rendimento físico de seus atletas.

O Período da Improvisação inicia-se com a primeira olimpíada da era moderna em Atenas em 1896 e termina na sétima olimpíada da era moderna em Antuérpia em 1920. Nessa fase, começou a surgir a necessidade de se estruturar o treinamento e compreender os resultados que se obtinha através desse treinamento.

O Período da Sistematização se caracteriza pela revolução das estruturas da teoria do treinamento que o finlandês Lauri Pihkala propôs, que era o “treinamento intervalado”, onde alternava-se o treino de distâncias curtas com intensidade forte e intervalos longos para recuperação. Os atletas finlandeses chegavam a treinar três vezes por dia, onde o local Paava Nurmi, em 1920, surpreendeu a todos ao correr com um cronômetro para controlar o seu ritmo, e seu treinamento consistia no “treinamento duração”, com marchas, e corridas de longa distância e no “treinamento tempo”, utilizando o trabalho intervalado. E através de seu método de treinamento, Paava Nurmi obteve 22 recordes mundiais, 10 medalhas olímpicas, sendo sete de ouro e três de prata. O alemão Krummel, a partir de 1920, sistematizou o treinamento através de alguns estudos. Finalizando esse período de 1920 a 1930, a escola sueca associou à velocidade, ritmo e o endurance, integrando os treinamentos em uma única sessão. O sueco Bosse Kolmer desenvolveu o sistema fartlek (jogo de velocidade). Esse sistema era feito através de trabalhos de corrida mediante a resistências naturais, como corridas na areia, bosques, ladeiras. O sistema compreende a alternância entre corridas rápidas e lentas, utilizando o descanso ativo e controlando o tempo de treinamento (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

No Período Pré-Cientifico (1930 a 1950), vários estudos foram feitos a respeito sobre as variáveis envolvidas no desempenho físico. Algumas propostas de Waldemar Gerschller e Waitzer (1933) recomendam a utilização de pistas ao invés de corridas na praia, bosques, como defende o fartlek, e a utilização de sessões mais curtas e da utilização de corridas de velocidade. A partir de 1942, o alemão Toni Nett estabeleceu normas de execução para outras formas de treinamento, sobressaindo-se o “time-trainning”. A maior contribuição desse período é a criação do treinamento intervalado (interval trainning) realizado por Toni Nett junto com o tcheco Kerssenbrac. Esse tipo de treino se caracteriza pelo uso de distâncias entre 200 e 400 metros, com alto volume de treinamento, chegando a 70 repetições, com intervalo de descanso de um minuto, quando o atleta realiza o repouso ativo (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

As pesquisas científicas realizadas por várias escolas notaram que o trabalho intervalado na década de 50 permitia que outros treinadores confirmassem que o princípio do treinamento intervalado era eficaz no preparo físico dos atletas de alto nível. Neste período, métodos de musculação, diferentes sistemas de treinamento (estabelecimento de diferentes objetivos de treinamento, proposição de tabelas de trabalhos, organização e estruturação de temporadas, preponderância da intensidade sobre o volume de treinamento), pesquisas sobre fisiologia do esforço, se tornaram cada vez mais comuns (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; DANTAS, 1998).

O Período Científico começa a partir de 1950 e vai até os dias atuais. Pesquisas científicas realizadas por Gerchller e Herbert Reindell fundamentam e comprovam a eficácia do treinamento intervalado. A hegemonia do treinamento intervalado perdurou até os Jogos Olímpicos de Roma em 1960, onde duas escolas se consagraram: australiana e neozelandesa. A australiana mesclava o time-trainning com o treinamento total, enquanto a neozelandesa criou o “marathon trainning”, cuja característica era um treinamento com altíssima intensidade, onde os atletas para treinarem percorriam até 160 quilômetros por semana (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

Segundo Mollet, pode-se dizer que não basta apenas ter um excelente treinamento tático, técnico e físico, cabe também ao atleta procurar aperfeiçoar o seu preparo, através de bons hábitos de vida, alimentação adequada. Segundo o treinamento de Raul Mollet, cada pessoa possui uma bagagem genética, que irá determinar suas potencialidades físicas e psicológicas para a prática de determinado desporto. Para que o individuo atinja o seu alto rendimento em determinado esporte, é necessário que ele tenha características acima do normal que o destaque dos demais indivíduos. E para treiná-lo é necessário aplicar um treinamento adequado (DANTAS, 1998; HERNANDES JR., 2002).

O enorme desenvolvimento tecnológico permitiu e vem permitindo aos treinadores e preparadores físicos o acesso á uma série de informações que o influenciam positivamente, para melhorar o desempenho do atleta. É notável a constante evolução tecnológica no que se refere a métodos de avaliação e controle de treinamento, como, por exemplo, os monitores de freqüência cardíaca, que possibilitou aos treinadores e preparadores físicos monitorarem a freqüência cardíaca do atleta durante todo o treinamento, e assim obter através do processamento de informações a demonstração do aproveitamento efetivo de cada sessão de treinamento e suas exigências fisiológicas. Outros aparelhos como o esfigmomanômetro (aferidor de P.A.), esteiras, bicicletas ergométricas, transports, elipticons, aparelhos de musculação, ergo-espirômetros, aparatos para realização de testes físicos e metabólicos e outros aparelhos que contribuem muito com os profissionais que trabalham com treinamento esportivo (TUBINO, 1979; DANTAS, 1998; HERNANDES JR., 2002).

Devido à constante evolução da tecnologia em prol do esporte como um todo, a vitoria não é mais suficiente em algumas modalidades esportivas. Hoje em dia o que interessa é a quebra de recordes. Em conseqüência disso, originou-se os atletas de laboratório, onde várias pesquisas são feitas a fim de se aumentar a capacidade e performance física. Para isso, têm-se as inúmeras pesquisas da Fisiologia do Exercício e dos Recursos Ergogênicos. Para conseguir quebrar recordes, algumas medidas básicas ainda são válidas, como ter uma alimentação adequada, uma assistência médica permanente, um descanso apropriado e claro, um treinamento eficaz.

Bibliografia

ANDRADE, P. J. A.; ROCHA, P. S. O.; CALDAS P. R. L. Treinamento desportivo. Brasília: MEC/DDD, 1978.

DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. Rio de Janeiro: Editora Shape, 1998.

HERNANDES JR, B. D. O. Treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Editora Sprint, 2002.

TUBINO, M.J.G. Metodologia cientifica do treinamento desportivo. São Paulo: Editora Ibrasa, 1979.

Motricidade: um caminho para os treinamentos técnicos e de preparação física

Gradativamente, o preço desse processo tem sido o distanciamento das melhores ações que permitam a compreensão da realidade
Regina Brandão, Antonio Afif, Marisa Agresta

Ao treinar um atleta nos aspectos técnicos, táticos e físicos, deve-se levar em conta todos os fatores que possam interferir em seu desempenho. Ou seja, é necessário entender que há pela frente complexos desafios, inerentes a um ser humano. Por isso, nosso olhar deve ser expandido para além daquelas questões comuns ao dia-a-dia de um treino. Um trecho do artigo escrito pelo professor Manuel Sérgio para a Cidade do Futebol esclarece um pouco mais o tema:

“O futebol é a modalidade desportiva que mais entusiasmo desperta no mundo todo. Mas, como motricidade humana que é, dele emerge a complexidade humana: o físico, o biológico e o antropossociológico. O futebolista que provoca admiração e espanto não tem só qualidades físico-biológicas invulgares. Com uma ou outra exceção ele é também um homem com um psiquismo forte, de autêntico vencedor”.

É inegável a grande contribuição que os preparadores físicos brasileiros deram ao futebol nas últimas décadas. Porém, o modelo de trabalho adotado pelos profissionais da área começa a dar sinais de esgotamento.

O professor João Paulo Medina, em artigo para a Cidade do Futebol, observa que os mesmos princípios utilizados outrora para a obtenção de resultados, hoje já não são tão consistentes, em virtude das mudanças paradigmáticas ocorridas na evolução do conhecimento e, por extensão, nas ciências do esporte nos últimos tempos.

O paradigma fundamentado na especialização que, de forma especial no século XX, trouxe tantos resultados práticos às diferentes áreas do conhecimento científico, hoje não consegue mais se sustentar com a mesma força. O grande desafio dos novos profissionais do século XXI será descobrir como continuar sendo competentes dentro da especificidade de sua área e, ao mesmo tempo, ter uma noção, a mais abrangente possível, de todo o contexto em que sua prática se realiza.

Portanto, já não basta saber cada vez mais sobre um campo cada vez mais restrito de atuação. Gradativamente, o preço desse processo tem sido o distanciamento das melhores ações que permitam a compreensão da realidade.

Em outras palavras, poder-se-ia dizer que o que se espera dos profissionais hoje em dia é que continuem sendo especialistas, mas ao mesmo tempo sejam também interdisciplinares, multifuncionais e tenham uma visão de conjunto. Além disso, é necessário que suportem bem as pressões e dificuldades, sejam críticos e criativos, tenham grande rapidez de respostas e possuam alta capacidade de aprendizagem.

Buscar esse perfil não é coisa simples. Exige grande esforço, determinação e compromisso daqueles que querem estar à frente de seu tempo, buscando permanentemente novas soluções para os desafios profissionais e da vida.

Na tentativa de explicitar dois modelos paradigmáticos, estimulando ou provocando uma reflexão crítica sobre o tema, serão apresentadas oito teses que tentam caracterizar cada uma das tendências.

A idéia foi simular os dois modelos, contrapondo o preparador físico tradicional, com sua visão tecnicista e reducionista, e outro tipo de profissional, emergente, ao qual chamaremos de motricista desportivo, em face de sua perspectiva bem mais abrangente na qual enfoca os movimentos e as atitudes dos atletas diante da realidade social em que vivem.

Oito teses sobre os dois modelos:

Tese 1: Dimensão Biológica x Dimensão Histórico-Cultural
Preparador físico tradicional – dá ênfase às dimensões biológicas ou biopsicológicas do atleta, tendendo a uma compreensão tecnicista e reducionista do treinamento e do desempenho esportivo de uma forma geral.
Motricista desportivo – dá ênfase ao ambiente sociocultural e à história concreta de cada atleta sem, entretanto, desconsiderar as outras dimensões.

Tese 2: Movimento Mecânico x Movimento Expressivo
Preparador físico tradicional – tem preocupação centrada no “físico”, ou seja, no movimento em seus aspectos mais mecânicos, voltados ao rendimento físico-desportivo.
Motricista desportivo – tem preocupação centrada no movimento como expressão de cultura, também em busca da melhor performance dos atletas, mas em sintonia com o significado da valorização humana, por meio da prática esportiva.

Tese 3: Individualismo x Individualidade
Preparador físico tradicional – reforça, consciente ou inconscientemente, o individualismo, ao descontextualizar a prática desportiva das contradições sociais em que os atletas vivem concretamente.
Motricista desportivo – entendendo o atleta (ser humano) como sujeito e produto da história, procura combater o individualismo (visão dominante em nossa sociedade), respeitando a individualidade em busca da cidadania dos atletas.

Tese 4: Aspectos Anatomofisiológicos x Sentido da Existência
Preparador físico tradicional – preocupa-se quase que exclusivamente com os aspectos anatomofisiológicos dos atletas, em que muitas vezes até os aspectos psicológicos têm uma importância apenas periférica ou complementar.
Motricista desportivo – preocupa-se permanentemente com o sentido da existência em todos os seus aspectos (físico-fisiológicos, psicológicos, emocionais, espirituais e sociais), buscando conscientizar seus atletas a partir da própria especificidade da prática esportiva.

Tese 5: Visão Dualista x Visão Global de Corpo
Preparador físico tradicional – entende o corpo de forma dualista ou pluralista (corpo-mente, corpo-alma, corpo-mente-espírito), fragmentando, segmentando ou “departamentalizando” o processo em busca da performance. Nesta visão, o corpo não é muito mais do que um conjunto biológico formado por ossos, músculos, nervos, pele, secreções e excreções. Às vezes (para os mais radicais), o corpo é confundido com uma máquina em busca de rendimento, de resultados.
Motricista desportivo – busca entender o corpo de forma global, ou seja, como um sistema bioenergético que estabelece relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo ou a natureza, em que a performance esportiva pode servir de caminho para o desenvolvimento humano mais amplo. Nesta perspectiva, o corpo, a natureza e a sociedade devem ser compreendidos dentro de um conjunto integrado.

Tese 6: Autoritarismo x Autoridade
Preparador físico tradicional – em razão de o universo de seu saber ser essencialmente técnico (tecnicista), tende a estabelecer uma relação autoritária com seus atletas, pois nesta visão o “professor” é o único detentor de conhecimento no processo de aprendizagem em busca do desempenho. Nesta perspectiva, o preparador sabe tudo (sobre as técnicas de treinamento) e o atleta nada sabe. Portanto, quem sabe (o professor) ensina, quem não sabe (o atleta), aprende.
Motricista desportivo – com uma sólidade visão de homem e de mundo, conquista a autoridade e o respeito entre seus atletas. Sua autoridade, portanto, não se esgota apenas em sua competência técnica, mas avança para perceber, de forma mais ampliada, o significado de suas expressões e manifestações de vida, em que a cultura corporal e esportiva se inserem. Nesta perspectiva, há uma permanente interação entre o professor e o atleta. Embora ele (professor) saiba algo que seus atletas ainda não sabem, está sempre aberto e aprendendo com eles.

Tese 7: Expontaneísmo x Intencionalidade
Preparador físico tradicional – tem, muitas vezes, uma visão ingênua do fenômeno esportivo, considerando-o, em geral, saudável e educativo, independentemente das intenções (boas e/ou más) que inspiram todas as ações humanas. Não se dá conta de que o esporte pode levar a uma prática doentia e não educativa, se não houver intencionalidade na direção oposta, ou seja, da prática saudável e educativa.
Motricista desportivo – para além de seus objetivos específicos de rendimento, buscando conquistas e vitórias, vê a prática esportiva como um instrumento que pode favorecer o desenvolvimento humano, perseguindo conscientemente a justiça, a fraternidade e a solidariedade entre os homens, caso haja esta intencionalidade por trás das práticas esportivas.

Tese 8: Objeto de Produção x Busca da Transcendência
Preparador físico tradicional – o atleta é visto quase como uma máquina e o corpo com um objeto de produção, reprodução e consumo. Não é sem razão que, nesta perspectiva, os jogadores de futebol são tratados como “peças de reposição”.
Motricista desportivo – vê o atleta como um ser verdadeiramente humano, ou seja, um ser carente em busca de sua transcendência (auto-superação permanente) e de sua realização como profissional competente, mas também como ser social que contribui para o desenvolvimento da sociedade em que vive.

(*) O presente texto é parte do capítulo escrito pelos autores para o livro Futebol, Psicologia e a Produção do Conhecimento, da Coleção Psicologia do Esporte e do Exercício – Vol. 3, Editora Atheneu, 2008, p. 149-173, organizado por Maria Regina Ferreira Brandão, Afonso Antonio Machado, João Paulo Medina e Alcides Scaglia.

Iniciação: técnica descontextualizada ou compreensão do jogo?

Entenda a complexidade do jogo e a individualidade da criança que está ao seu lado, assim sua formação será completa!
Rodrigo Vicenzi Casarin

Sabe-se que o processo de iniciação no futebol deve ser realizado de forma paulatina, respeitando as necessidades e individualidades das crianças. Porém, o que observamos nos campos tupis-guaranis são “mini-craques” realizando atividades estafantes, monótonas, fora do contexto real do jogo, visivelmente impróprias para seu estado maturacional, objetivando apenas os aspectos técnicos.

Nessa linha de raciocínio, Garganta (1998) afirma que o ensino do jogo centrado principalmente na técnica individual é uma conseqüência da transposição direta de meios e métodos do treino das modalidades individuais para as coletivas, sem levar em consideração a especificidade estrutural e funcional desse último grupo de modalidades.

Diante disso, muitos professores-treinadores entendem que as crianças não devem começar a jogar futebol até que não possuam o domínio correto de todas as técnicas, desconsiderando, assim, as outras dimensões do jogo.

Se analisarmos que a iniciação, de acordo com Gomes (1999), é a fase onde irá desenvolver o ser como um todo, propiciando a formação e preparação multilateral e harmoniosa, formando uma base sólida através da diversificação das atividades, constituindo-se, mais tarde, como alicerce para as etapas seguintes, percebemos que o único meio multilateral, que desenvolve a criança como um todo, é o jogo.

Portanto, é sem fundamento nossas crianças treinarem apenas aspectos técnicos, como cruzamentos, desarmares, passes, finalizações, entre outros, sem vivenciarem por inteiro as demais dimensões do jogo. Ou seja, de nada adianta termos jogadores que executam com perfeição os gestos técnicos, se os mesmo apresentam deficiências ao nível da compreensão do jogo.

Voltando aos primórdios do nosso futebol, notamos que a aprendizagem era feita de uma forma não organizada, na rua; com bolas de diferentes tamanhos; através de jogos reduzidos de 2x2, 3x3; em espaços variados; e com um conjunto diversificados de situações-problemas.

É evidente que as crianças de hoje não são as mesmas de antigamente e que o futebol atual requer novos ensinamentos e novas exigências. Entretanto, não podemos descartar um acervo de atividades, com constantes tomadas de decisões, por atividades que não garantam a compreensão do jogo e um jogar inteligente.

Corroborando essa idéia, Vikers (2000) afirma que os exercícios baseados na tomada de decisão promovem, a longo prazo, melhores resultados na capacidade de adaptação às exigências do jogo. Já em curto prazo, o ensino tradicional centrado nos comportamentos estereotipados (técnicas) apresenta vantagens aparentes numa fase inicial da aprendizagem, não sendo confirmadas, mais tarde, na capacidade de interpretação do jogo.

Sendo assim, se seguirmos no “curto prazo”, continuaremos a formar atletas com comportamentos pré-estabelecidos, incapazes de lidar com situações adversas, fugindo do aprendizado específico que tiveram desde a época de menino na escolinha. Dessa forma, se o aluno, na iniciação, prosseguir reproduzindo determinados movimentos, ditos perfeitos, nunca entenderá a globalidade, a imprevisibilidade e a variedade situações - problemas que acontecem no decorrer do jogo.

Após essa breve reflexão, entendo que as idéias acima são suficientes para tentarmos modificar alguns vícios que perpetuam o ensino do futebol. Portanto as metodologias baseadas no jogo e sua compreensão trazem novos horizontes para o ensino do esporte.

Diante desta perspectiva, listo cinco sugestões sucintas, que podem contribuir para os professores-treinadores elaborarem seus planejamentos:

1 - Como a iniciação requer alguns cuidados em suas atividades, o processo de ensino-aprendizagem o deve apresentar uma gama de brincadeiras em forma de jogos que desenvolvam os aspectos lúdicos;

2 – Proporcionar contato com diversos matérias dentro dos jogos;

3- Definir o princípio do jogo a ser trabalhado (penetração, contenção) de forma simples, já que a compreensão geral do jogo nessa fase ainda é limitada.

4 - Aumentar progressivamente a complexidade das atividades. Exemplo: jogos situacionais (1x1, 1x1 + 1, 2x1 ...) e jogos reduzidos (regras adaptadas dependendo dos objetivos da sessão, como zonas de finalização, zonas de 3 toques, zonas livres quanto a toque, passar a bola entre todos companheiros para finalizar a gol, etc.);

5- Utilizar preceitos do voleibol, como o rodízio dos atletas, seja nos jogos reduzidos ou jogos situacionais. Nessa situação haverá uma troca constante de posições. Em tese, os alunos trocarão de posições e tarefas após um determinado tempo, experimentando as diversas situações impostas pelo jogo naquela determinada zona do campo.

Para finalizar, se quisermos no futuro jogadores inteligentes e universais, que entendam as situações-problema do jogo nos vários setores do campo, é fundamental utilizarmos o jogar. Esse jogar não é entregar uma bola e sentar na casamata ou realizar exercícios descontextualizados; é planificar jogos que desenvolvam a criatividade, a liberdade intuitiva e as tomadas de decisões, que é a maior atividade do jogo.

Crie e adapte. Entenda a complexidade do jogo e a individualidade da criança que está ao seu lado, assim sua formação será completa!

domingo, 12 de julho de 2009

As fases de treinamento das categorias de base: como determiná-las?

Os jovens jogadores devem passar por todas as etapas, sem que haja exageros de exigências de força, psicológica, técnica ou tática
Marcelo Iglesias

Como devem ser preparados os jovens que futuramente serão os grandes nomes do futebol brasileiro? Essa é uma questão presente em todos os clubes. Por conta disso, esse foi um dos temas debatidos durante o II Congresso Brasileiro de Ciências do Futebol, realizado entre os dias 3 e 5 de julho, no auditório do Corinthians.

Tendo em vista que os jogadores de futebol iniciam suas carreiras ainda muito novos e têm o seu auge profissional poucos anos após começarem a atuar por equipes profissionais, um dos dilemas daqueles que trabalham com as categorias de base é como devem ser divididas as etapas de treinamento desses jogadores.

“O treinamento dos atletas da categoria de base é dividido em generalizado, o qual é feito dos seis aos 14 anos de idade, e especializado, que é dado aos maiores de 14 anos”, explicou Sandro Sargentim, preparador físico responsável pelas categorias de base do Corinthians. “O treinamento generalizado é dividido em iniciação (dos seis aos 10 anos) e em formação atlética (dos 11 aos 14 anos). Já o treinamento especializado é fragmentado em especialização (dos 15 aos 17 anos) e alta performance (para os maiores de 17 anos)”, concluiu.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Princípios do Treinamento Desportivo


Por: Emerson Paim
PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS
a) Princípio de unidade funcional
b) Princípio da multilateralidade
c) Princípio da especificidade
d) Princípio da sobrecarga
e) Princípio da supercompensação
f) Princípio da continuidade
g) Princípio da progressão
h) Princípio da individualidade
i) Princípio da Perspecitva Evolutiva
j) Princípio da Recuperação
l) Princípio da Participação Ativa e Consciente do Treino
m) Princípio da Transferência
n) Princípio da Periodização
o) Princípio da Adequação

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PRINCIPIO DA UNIDADE FUNCIONAL
Conceitos Básicos:
O organismo funciona como um todo indissolúvel;
Uma falha em algum órgão ou sistema prejudica o treinamento;
Atenção ao desenvolvimento harmônico dos diferentes sistemas;
O desenvolvimento de uma Q.F. pode induzir ao prejuízo de uma segunda.

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PRINCIPIO DA MULTILATERALIDADE
Atenção especial em relação ao trabalho com crianças;
Atletas com maior domínio de movimentos, apresentam uma maior variedade de ação motriz e como conseqüência, desenvolve uma maior capacidade de assimilar novas técnicas e métodos de treinamento mais complexos, levando em consideração que uma aprendizagem nasce sobre outros esquemas motores já adquiridos;
O problema da especialização de forma precoce:
Evolução em um determinado ponto;
Involução em outros órgãos, sistemas ou habilidades;
Preparação unilateral
HEGEDUS:
“A especialização é um freio ou uma barreira para o sucesso no alto rendimento”
Multilateralidade Geral - Quando a criança pratica várias modalidades esportivas.
Multilateralidade Específica - Quando a criança pratica todas as possibilidades que são oferecidas por um só esporte.

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PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE
Adaptações fisiológicas específicas;
Tipo de treinamento para desenvolver determinada Q. F.;
Formas de avaliação;
Modelos de treinamento de atletismo aplicados a modalidades coletivas;
A especificidade no contexto do macrociclo;
rendimento (Bompa apud Manso et ali, 1996).

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PRINCIPIO DA SOBRECARGA
• Aplicação de um esforço específico visando estimular uma resposta adaptativa desejada, sem produzir um processo de desgaste físico exagerado.
• Ponto fundamental:
- Superar o limite inferior de esforço;
- Não atingir o limite superior de esforço.

“O ponto ideal de treinamento corresponde a uma carga física quando a intensidade e/ou volume são suficientes para provocar uma ativação do metabolismo energético ou plasmático da célula, em conjunto com a síntese de novas substâncias” (Burke, 1991)
Ponto de desgaste - nos primeiros anos de treinamento o volume deve aumentar progressivamente, mas na medida que o atleta melhora o nível, a importância do volume vai diminuindo e o fator intensidade deverá ter prioridade.
REFERENCIAIS P/ DETECCÃO DA FADIGA:
Alterações na capacidade de rendimento:

Diminuição na capacidade de trabalho;

Aumento da FC x nível de carga;

Aumento do consumo de oxigênio (submáximo);

Aumento da ventilação (submáximo);

Diminuição da força; diminuição da coordenação;

Aumento dos erros técnicos.

Alterações no estado geral:

Cansaço geral;

Insônia; sudorese noturna;

Perda de apetite; Perda de peso;

Amenorréia; cefaléias; náuseas;

Distúrbios gastrointestinais;

Dores musculares ou tendinosas;

Diminuição das defesas; Febre;

Reativação da herpes.
Avaliacão Clínica:

Aumento do ácido úrico;

Aumento do amoníaco basal;

Elevação da creatinaquinasa;

Aumento do cortisol basal;

Diminuição da testosterona livre;

Aumento do K no sangue;


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PRINCÍPIO DA SUPERCOMPENSAÇÃO
Com a aplicação de estímulos de treinamento, produz-se alterações estruturais, tanto somática como funcionais, provocando no período de recuperação o retorno aos níveis iniciais e inclusive de melhora.
Fatores que interferem na composição da curva:

Volume; Intensidade;

Qualidade Física treinada;

Nível de condicionamento físico do praticante;

Condições climáticas;

Alimentação (antes-durante-depois).
Modelos de supercompensação

Formas de adaptação

Neural - Coordenação
Somático:

Aumento da espessura dos miofilamentos;

Aumento do número de capilares por sessão muscular;

Aumento da resistência dos tecidos conectivos;

Incremento das reservas energéticas;

Hiperplasia.


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PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
- Ganho de performance;
- Manutenção dos níveis atingidos;
- Período de interrupção.
Fatores intervenientes:

Lesões;

Doenças;

Sociais;

Período do treino - Pré-competição
Indivíduos treinados recuperam mais rapidamente;
Redução da carga após um período de afastamento — procedimentos.

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PRINCÍPIO DA PROGRESSÃO

Rege que o aumento da carga de treino deverá ser de forma gradual, esperando para que ocorra uma adaptação geral;

Principais parâmetros de controle: Volume + Intensidade;

Princípio ondulatório;

Quando não se segue uma progressão coerente, não se obtém nenhum benefício e a vida esportiva do atleta será prejudicada;

Evolução da sobrecarga.
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PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIDADE
Elaboração do programa ideal de treino


Costumes;

Gosto;

Necessidades;

Adaptado;

Meta.

Fatores que afetam a resposta individual

Genética;

Descanso e sono;

Meio ambiente;

Maturação;

Saúde, nutrição;

Motivação — perfil psicológico;

Nível de condição.


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PRINCÍPIO DA PERSPECTIVA EVOLUTIVA
“Quanto mais treinado é o atleta mais difícil será
obter uma evoIução"
Navarro (1993) propõe após 3 - 5 anos de esforço máximo um período de 6 a 12 meses de regeneração. Clique aqui para ver o gráfico.

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PRINCIPIO DA RECUPERAÇÃO
Acão recuperativa com o exercício

Durante o macrociclo;

Durante o mesociclo;

Durante o microciclo;

Durante a sessão ou dia de trabalho — exercício recuperadores.

Outras formas de acelerar o processo de recuperação:

Emprego de meios mecânicos e/ou naturais de recuperação;

Produtos recuperadores — meios e métodos ergonutricionais.

Emprego de meios mecânicos e/ou naturais de recuperação:

Raios ultravioletas;

Eletroestimulação;

Crioterapia;

Oxigenoterapia;

Hidroterapia (duchas, banhos à vapor, sauna);

Massagem: (superficial, fricção, percussão, vibração);

Pressão local negativa;

Gravitoterapia.

Produtos recuperadores — meios ergonutricionais:

Dieta com suplementação de hidratos de carbono;

Suporte hídrico;

Meios farmacológicos;

Bicarbonato;

L - carnitina, Ginseng, Arginina, Lisina, Cromo...

Glutamina, Cafeína;

Antioxidantes.


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PRINCIPIO DA PARTICIPAÇÃO ATIVA E CONSCIENTE DO TREINO
Proposta de Harre (1987):

Determinar para o atleta um objetivo de rendimento a se atingido;

Oferecer ao atleta conhecimento estrito à tarefa de treinamento;

Formular exigências que requeiram reflexão, iniciativa e responsabilidade por parte do atleta;

Educar ao atleta para que seja capaz de se avaliar;

Confiar responsabilidades de condição pedagógica a atletas apropriados;

Capacitar ao atleta para efetuar um controle consciente de sua própria seqüência de movimentos;

Possuir um registro próprio de controle dos resultados e compara-los com os anteriormente realizados e com o realizado na realidade.


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PRINCIPIO DA TRANSFERÊNCIA
A transferência de um tipo de treino poderá ser positiva, negativa ou nula.

Lateral ou horizontal - Futsal — futebol

Vertical - Progressão de dificuldade de tarefas. Ex. mortal – mortal c/ giro.
Problemas relacionados com a transferência

trabalho de musculação;

aprendizagem de um novo movimento;

modificar um movimento técnico já sedimentado;

aprendizagem de transmissão cruzada;

de uma modalidade à outra.


________________________________________PRINCÍPIO DA PERIODIZAÇÃO

Razões fundamentais para a estruturação do treino em períodos:

O atleta não pode manter por muito tempo a forma, por limitações fisiológicas;

As trocas periódicas da estrutura e conteúdo do treinamento são uma condição necessária para o aperfeiçoamento atlético visando poder alcançar um novo e superior degrau no desenvolvimento do atleta.
(Fortaleza & Ranzola, 1988)



________________________________________PRINCIPIO DA ADEQUAÇÃO

Existe um ponto ideal de treino em que a solicitação não pode ser baixa ao ponto de provocar uma desmotivação ao atleta, nem excessivamente forte ao ponto de prejudica-lo ou induzi-lo também a uma condição desmotivante.
Treino — Prazer — Objetivo — triunfo — Nova situação problema

Ir de pouco p/ muito

Do fácil p/ o complexo

Do conhecido p/ o desconhecido


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PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS
a) Princípio de participação ativa e consciente no T.D.
b) Princípio da transferência do treinamento
c) Princípio da acessibilidade.

terça-feira, 7 de julho de 2009

A importância da formação acadêmica em Educação Física para a atuação do técnico de futebol: breve reflexão

Para que um técnico consiga liderar toda a comissão que lhe cerca é essencial que ele tenha conhecimentos para debater as melhores condutas em cada área
Luis Felipe T. Polito
Assim como existem fortes conhecimentos populares em todas as áreas do conhecimento humano, com o futebol não poderia ser diferente, e talvez o maior e mais prejudicial senso comum que norteia o mundo desta modalidade esportiva, e também de outras, é o fato de que para ser um bom técnico é necessário ter sido um dia atleta daquela modalidade.

Em primeiro lugar, seria interessante citarmos o atual cenário jurídico a respeito da atuação do técnico de futebol. A Lei 9.696, de 1º de setembro de 1998, regulamentada pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em seu terceiro artigo preconiza que:

“Compete ao Profissional de Educação Física coordenar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades físicas e do desporto.” (BRASIL, 1998).

Pôde-se verificar no artigo supra-citado que a legislação reserva aos profissionais de Educação Física o direito de exclusividade no planejamento, direção e organização do desporto em geral, dentre eles o futebol.

Além disso, podemos buscar na lei 6.354, de 2 de setembro de 1976, outorgada pelo então Presidente da República Ernesto Geisel, que, em seu vigésimo sétimo artigo preconiza:

“Todo ex-atleta profissional de futebol que tenha exercido a profissão durante 3 (três) anos consecutivos ou 5 (cinco) anos alternados, será considerado, para efeito de trabalho, monitor de futebol”. (BRASIL, 1976).

Pôde-se perceber que o profissional que atua no futebol, mas que não possui formação técnica em Educação Física não pode, em termos legais, ser considerado Técnico de futebol, e sim monitor de futebol.

Com os termos legais já vistos, poderemos migrar para aspectos mais práticos.

Em entrevista ao jornal Lance!, do dia 20 de agosto de 2006, na página 15, ao ser perguntado sobre a preparação física, o então técnico do Sport Club Corinthians Paulista, Emerson Leão, proferiu a seguinte resposta: “Qualquer coisa que será feita aqui, passará pelo meu crivo, até porque eu me formei em educação física em 1973”. Drubsky (2003), ao retratar em seu livro o modelo organizacional de uma equipe do futebol brasileiro, coloca, liderando a comissão técnica, o técnico de futebol. O mesmo autor ainda afirma ser este profissional o responsável pela maior parte das decisões ligadas ao futebol. Não com isso, dizendo que o mesmo deve ministrar a preparação física, o departamento de fisiologia, o departamento de nutrição e assim por diante, porém o mesmo deveria ter conhecimento suficiente para compreender os diferentes processos relacionados ao desporto, desde o aspecto tático até o departamento de fisiologia, por exemplo.

Para exemplificar a idéia defendida, podemos lembrar do Princípio da Especificidade do Treinamento Desportivo, que preconiza que as adaptações ocorridas com o treinamento serão altamente específicas ao tipo de treinamento que será empregado, à sua freqüência, volume, intensidade, meio e método, por exemplo: o atleta de maratona deve realizar treinos relativamente intensos, porém, com alto volume, enfatizando assim, o sistema aeróbio, fundamental para o sucesso desportivo nesta dada modalidade. (MONTEIRO, 2006; WILLMORE & COSTILL, 2001). Barros & Valquer (2004) informam que o futebol é uma modalidade esportiva caracterizada por esforços intensos e breves, acompanhados de intervalos de recuperação. Desta forma, pode-se dizer que o método de treinamento mais adequado ao futebol, respeitando o Princípio da Especificidade é o Método Intervalado, caracterizado por períodos destinados aos estímulos e períodos destinados à recuperação (GARRETT & KIRKENDALL, 2003; McARDLE, KATCH & KATCH, 2003; MONTEIRO, 2006; WEINECK, 2003; PLATONOV, 2008). Este método de treinamento foi primeiramente escrito por Reindell e Roskamm e popularizado pelo campeão olímpico Emil Zatopek, em 1950 (VERONIQUE, 2001). Se um atleta de futebol que atuava aproximadamente na década de 1940-1950, onde havia predominância do treinamento contínuo, que se caracteriza por não apresentar intervalos de recuperação, com volume de treinamento muito alto, o mesmo poderá acreditar, como técnico, que o método de treinamento físico que deveria ser empregado aos seus atletas deveria ser este, podendo até, contrariar as sugestões do responsável pela preparação física. A partir deste breve fato, pode-se verificar a essencialidade da formação teórica do técnico de futebol, ou melhor dizendo, a importância da formação universitária em Educação Física.

Se para os técnicos de futebol a formação universitária em Educação Física se torna importante, pode-se duplicar esta importância para aqueles técnicos que estão envolvidos com as categorias de base, ou seja, estão envolvidos com o treinamento de crianças e adolescentes, que possuem suas especificidades no âmbito psicológico, fisiológico, motor e cognitivo. Frisselli & Mantovani (1999) afirmam que os técnicos de futebol necessitam observar e relevar o fato de que antes de serem jogadores de futebol, as crianças e adolescentes são seres humanos que estão passando por complexos processos de crescimento e maturação. Korsakas & De Rose Junior (2002) afirmam que o treinamento empregado com crianças e adolescentes não possui especificidade para estas faixas etárias, sendo uma cópia daqueles programas de treinamento aplicados com os adultos, a não ser pela redução da bola, do tempo de jogo e assim por diante, o que é extremamente errado, uma vez que, como já dito anteriormente, crianças e adolescentes possuem um “universo” de conhecimentos a parte.

Bibliografia:

BARROS, T. L. & VALQUER, W. Preparação física no futebol. In: BARROS, T. L. & GUERRA, I. Ciência do futebol. Barueri, São Paulo: Manole, 2004, p.21-38.

BRASIL. Lei nº 6.354, de 2 de setembro de 1976. Dispõe sobre as relações de trabalho do atleta profissional de futebol e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 02/09/1976.

BRASIL. Lei nº 9.696, de 1 de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 02/09/1998.

DRUBSKY, R. O universo tático do futebol: escola brasileira. Belo Horizonte: Editora Health, 2003, 336 p.

GARRETT JUNIOR, W. E.; KIRKENDALL, D. T e colaboradores. A ciência do exercício e dos esportes. Porto Alegre: Artmed, 2003. 911 p.

JORNAL LANCE. Falamos com... Émerson Leão. Jornal Lance!, São Paulo, 20/08/2006, p. 14-15.

KORSAKAS, P. & De ROSE JÚNIOR, D. Os encontros e desencontros entre esporte e educação: uma discussão filosófico-pedagógica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. v. 1, n. 1, pg 83-93, 2002.

McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 5ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2003, 1113 p.

MONTEIRO, A. G. Treinamento personalizado: Uma Abordagem Didático-Metodológica. 6. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2006. 199 p.

PLATONOV, V. N. Tratado geral de treinamento desportivo. São Paulo: Phorte Editora, 2008, 887 p.

VERONIQUE, B. L. Interval Training for performance: a scientific and empirical practice: special recommendations for middle and long distance running part I: aerobic interval training. Sports Medicine. v. 31, n. 1, p. 13-31, 2001.

WEINECK, J. Treinamento Ideal. Barueri, São Paulo: Manole, 2003,740 p.

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2ª ed. São Paulo, Manole, 2001. 709 p.