quarta-feira, 29 de julho de 2009

O que fazer para se tornar um treinador de futebol?

Para ser treinador de futebol do século XXI (e não no século XXI) serão necessários muitos estudos e anos de dedicação

Nos cursos de Educação Física sempre me deparo com fantásticos alunos que desejam ser treinadores de futebol. Também, com certa frequência recebo e-mails de jovens que me indagam sobre como ser um treinador de futebol, ou mesmo se tenho contatos com pessoas do meio futebolístico para arrumar-lhes oportunidades de estágio e emprego.

Assim, a pergunta que não quer calar seria: o que fazer para se tornar um treinador de futebol? Principalmente em um país em que ainda impera o tradicionalismo e o conservadorismo quando o assunto é futebol.

Além do fato incontestável de que, em sua maioria, a gestão do futebol está nas mãos de pessoas reacionárias que, obviamente, não querem mudanças, logo os revolucionários devem ser sufocados e suas idéias impedidas de propagação.

Esta estóica conjetura privilegia apenas os que possuem capital simbólico. E este capital simbólico não é obtido na universidade (nesta seara se obtém o capital intelectual), e sim no campo de jogo no seio de uma sociedade mitificadora (que depende de mitos).

Capital, segundo o Houaiss, significa “de relevo; principal, fundamental”, ou seja, estou querendo dizer que do modo como o futebol está sendo gerido, apenas os ex-jogadores, e famosos (de relevância, com capital simbólico), têm a oportunidade de se candidatar ao cargo de treinador.

Não é necessário estudar, preparar-se... e sim apenas aproveitar a oportunidade, ganhando jogos e se mantendo na ciranda (ou dança das cadeiras) dos palcos que se transformam os bancos de reservas dos estádios.

Sendo assim, só posso entender que existe um cenário interessante para a eclosão de uma revolução, não anárquica, mas inteligente, que poria fim às injustiças impostas por esta forma de gestão.

Digo injusta, pois esta visão tradicional, primeiro, exclui os que não têm dom, pois não pode ser jogador de futebol quem não recebeu os talentos divinos ou genéticos, e, na sequência, só pode ser treinador quem foi jogador de sucesso.

Ou seja, é preciso ser dotado de muita resignação para não aderir a esta revolução. Só mesmo tomando muito “alienol” para se manter neste estado letárgico de alienação.

Nada diferente das fábulas proféticas relatadas no começo do século XX, nos clássicos livros “Admirável mundo novo” e “A Ilha”, por Aldous Huxley, onde a resignação era quimicamente controlada por substâncias alienantes como o soma e o moksha.

Porém, só os “cegos” e os que ignoram o conhecimento científico, para não perceber as mudanças paradigmáticas que estão em curso.

Nos tempos atuais, emergem mudanças sistêmicas que, de modo avassalador, irão levar à extinção àqueles que não se adaptarem às novas exigências, agora democráticas, da profissão de treinador de futebol.

Democráticas, pois, nesta perspectiva, ser treinador de futebol não será mais determinado pelos “genes” futebolísticos ou mesmo, por pura vocação divina.

Para ser treinador de futebol do século XXI (e não no século XXI) serão necessários muitos estudos e anos de dedicação, para aquisição de saberes que levem à edificação de competências e habilidades requeridas às novas funções dos gestores de campo.

A pergunta, logo, muda. Passa de o que fazer para o que estudar, se se almeja ser treinador de futebol?

Minha sensibilidade, advinda do acúmulo de conhecimentos e experiências no meio futebolístico, diz que talvez os estudos devam começar pelas ciências humanas (a filosofia, a psicologia, a pedagogia, a sociologia, a história, a administração, a motricidade humana...).

De forma semelhante, relata de próprio punho o revolucionário treinador José Mourinho, em um capítulo do livro Motrisofia (obra organizada que reúne uma diversidade de autores comprometidos em homenagear o filósofo Manuel Sérgio).

Ele escreve: “Fiz o curso de Educação Física há mais de 20 anos, onde no meu primeiro ano conheci o Prof Manuel Sérgio. Tinha uma convicção, queria ser treinador de futebol, mas na minha época estava no auge estudar Matveyv, porém a teoria do treinamento desportivo positivista não se alinhava a minha forma de pensar. Foi aí que o Prof. Manuel Sérgio me ensinou que para ser aquilo que eu queria ser, teria de ser um especialista na área das ciências humanas. Foi assim que aprendi que um treinador de futebol que só perceba de futebol, de futebol nada sabe. Se sou um treinador singular é porque não me esqueço das lições sobre emancipação e libertação. É preciso ser livre para fazer o novo... até no futebol”.

Para interagir com o autor: alcides@universidadedofutebol.com.br

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A trajetória do treinamento desportivo: do empirismo ao cientificismo


Compreensão da evolução a partir de cinco períodos: da arte; da improvisação; da sistematização; pré-científico e cientifico
Fernando Ianni

A evolução do treinamento desportivo tem seus alicerces fundamentados na cultura grega. A necessidade de se organizar métodos de treinamento surgiu de maneira gradativa, sempre atendendo as necessidades especificas da época em que se vivia (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; HERNANDES JR., 2002).

O planejamento do treinamento naquela época (Grécia antiga) consistia em uma preparação geral com um misto de corridas, marchas, jogos, lutas, danças e uma preparação específica, onde os atletas trabalhavam com sobrecargas, como sacos de areia, pesos e pedras. O treinamento obedecia a uma rotina cíclica de quatro dias, que eram os chamados tetras, os quais eram repetidos indefinidamente durante toda a vida do atleta. Era o chamado “treinamento total”, feito pelos gregos há quase 2800 anos. A carga de treinamento era forte, e era comum o caso de mortes de atletas (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978).

Em 1896, com a retomada dos Jogos Olímpicos, atletas e treinadores retornaram aos treinos e buscou-se cada vez mais os métodos que visassem à melhora na performance física e técnica (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978). Segundo Pierre de Coubertin, citado por Hernandes Jr. (2002), o lema do esporte amador era “O essencial não é vencer, mas competir com lealdade, cavalheirismo e valor”. No início dos anos 30, Adolf Hitler utilizou os jogos de Berlim (1936) para divulgar sua ideologia nazista, organizando uma grande e eficiente infra-estrutura de treinamento para que através desse treinamento, eles obtivessem a maioria das medalhas disputadas. Este foi o primeiro relato de treinamento desportivo visando à competição.

A evolução do treinamento desportivo pode ser dividida em cinco fases para melhor compreensão: A) Período da Arte; B) Período da Improvisação; C) Período da Sistematização; D) Período Pré-Científico; E) Período Cientifico (TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

O Período da Arte compreende os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga a partir de 776 a.C. até as primeiras olimpíadas da era moderna em Atenas em 1896. Os treinamentos eram conduzidos de uma forma global. Esses treinamentos eram baseados em experiências subjetivas de cada treinador. Os conteúdos eram extenuantes, tinha-se a idéia de que quanto mais difícil for o treino, mais dor o atleta sentir, melhor. Um relato dizia que os gregos usavam algumas poções elaboradas com ervas, para aumentar o rendimento físico de seus atletas.

O Período da Improvisação inicia-se com a primeira olimpíada da era moderna em Atenas em 1896 e termina na sétima olimpíada da era moderna em Antuérpia em 1920. Nessa fase, começou a surgir a necessidade de se estruturar o treinamento e compreender os resultados que se obtinha através desse treinamento.

O Período da Sistematização se caracteriza pela revolução das estruturas da teoria do treinamento que o finlandês Lauri Pihkala propôs, que era o “treinamento intervalado”, onde alternava-se o treino de distâncias curtas com intensidade forte e intervalos longos para recuperação. Os atletas finlandeses chegavam a treinar três vezes por dia, onde o local Paava Nurmi, em 1920, surpreendeu a todos ao correr com um cronômetro para controlar o seu ritmo, e seu treinamento consistia no “treinamento duração”, com marchas, e corridas de longa distância e no “treinamento tempo”, utilizando o trabalho intervalado. E através de seu método de treinamento, Paava Nurmi obteve 22 recordes mundiais, 10 medalhas olímpicas, sendo sete de ouro e três de prata. O alemão Krummel, a partir de 1920, sistematizou o treinamento através de alguns estudos. Finalizando esse período de 1920 a 1930, a escola sueca associou à velocidade, ritmo e o endurance, integrando os treinamentos em uma única sessão. O sueco Bosse Kolmer desenvolveu o sistema fartlek (jogo de velocidade). Esse sistema era feito através de trabalhos de corrida mediante a resistências naturais, como corridas na areia, bosques, ladeiras. O sistema compreende a alternância entre corridas rápidas e lentas, utilizando o descanso ativo e controlando o tempo de treinamento (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

No Período Pré-Cientifico (1930 a 1950), vários estudos foram feitos a respeito sobre as variáveis envolvidas no desempenho físico. Algumas propostas de Waldemar Gerschller e Waitzer (1933) recomendam a utilização de pistas ao invés de corridas na praia, bosques, como defende o fartlek, e a utilização de sessões mais curtas e da utilização de corridas de velocidade. A partir de 1942, o alemão Toni Nett estabeleceu normas de execução para outras formas de treinamento, sobressaindo-se o “time-trainning”. A maior contribuição desse período é a criação do treinamento intervalado (interval trainning) realizado por Toni Nett junto com o tcheco Kerssenbrac. Esse tipo de treino se caracteriza pelo uso de distâncias entre 200 e 400 metros, com alto volume de treinamento, chegando a 70 repetições, com intervalo de descanso de um minuto, quando o atleta realiza o repouso ativo (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

As pesquisas científicas realizadas por várias escolas notaram que o trabalho intervalado na década de 50 permitia que outros treinadores confirmassem que o princípio do treinamento intervalado era eficaz no preparo físico dos atletas de alto nível. Neste período, métodos de musculação, diferentes sistemas de treinamento (estabelecimento de diferentes objetivos de treinamento, proposição de tabelas de trabalhos, organização e estruturação de temporadas, preponderância da intensidade sobre o volume de treinamento), pesquisas sobre fisiologia do esforço, se tornaram cada vez mais comuns (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; DANTAS, 1998).

O Período Científico começa a partir de 1950 e vai até os dias atuais. Pesquisas científicas realizadas por Gerchller e Herbert Reindell fundamentam e comprovam a eficácia do treinamento intervalado. A hegemonia do treinamento intervalado perdurou até os Jogos Olímpicos de Roma em 1960, onde duas escolas se consagraram: australiana e neozelandesa. A australiana mesclava o time-trainning com o treinamento total, enquanto a neozelandesa criou o “marathon trainning”, cuja característica era um treinamento com altíssima intensidade, onde os atletas para treinarem percorriam até 160 quilômetros por semana (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

Segundo Mollet, pode-se dizer que não basta apenas ter um excelente treinamento tático, técnico e físico, cabe também ao atleta procurar aperfeiçoar o seu preparo, através de bons hábitos de vida, alimentação adequada. Segundo o treinamento de Raul Mollet, cada pessoa possui uma bagagem genética, que irá determinar suas potencialidades físicas e psicológicas para a prática de determinado desporto. Para que o individuo atinja o seu alto rendimento em determinado esporte, é necessário que ele tenha características acima do normal que o destaque dos demais indivíduos. E para treiná-lo é necessário aplicar um treinamento adequado (DANTAS, 1998; HERNANDES JR., 2002).

O enorme desenvolvimento tecnológico permitiu e vem permitindo aos treinadores e preparadores físicos o acesso á uma série de informações que o influenciam positivamente, para melhorar o desempenho do atleta. É notável a constante evolução tecnológica no que se refere a métodos de avaliação e controle de treinamento, como, por exemplo, os monitores de freqüência cardíaca, que possibilitou aos treinadores e preparadores físicos monitorarem a freqüência cardíaca do atleta durante todo o treinamento, e assim obter através do processamento de informações a demonstração do aproveitamento efetivo de cada sessão de treinamento e suas exigências fisiológicas. Outros aparelhos como o esfigmomanômetro (aferidor de P.A.), esteiras, bicicletas ergométricas, transports, elipticons, aparelhos de musculação, ergo-espirômetros, aparatos para realização de testes físicos e metabólicos e outros aparelhos que contribuem muito com os profissionais que trabalham com treinamento esportivo (TUBINO, 1979; DANTAS, 1998; HERNANDES JR., 2002).

Devido à constante evolução da tecnologia em prol do esporte como um todo, a vitoria não é mais suficiente em algumas modalidades esportivas. Hoje em dia o que interessa é a quebra de recordes. Em conseqüência disso, originou-se os atletas de laboratório, onde várias pesquisas são feitas a fim de se aumentar a capacidade e performance física. Para isso, têm-se as inúmeras pesquisas da Fisiologia do Exercício e dos Recursos Ergogênicos. Para conseguir quebrar recordes, algumas medidas básicas ainda são válidas, como ter uma alimentação adequada, uma assistência médica permanente, um descanso apropriado e claro, um treinamento eficaz.

Bibliografia

ANDRADE, P. J. A.; ROCHA, P. S. O.; CALDAS P. R. L. Treinamento desportivo. Brasília: MEC/DDD, 1978.

DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. Rio de Janeiro: Editora Shape, 1998.

HERNANDES JR, B. D. O. Treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Editora Sprint, 2002.

TUBINO, M.J.G. Metodologia cientifica do treinamento desportivo. São Paulo: Editora Ibrasa, 1979.

Motricidade: um caminho para os treinamentos técnicos e de preparação física

Gradativamente, o preço desse processo tem sido o distanciamento das melhores ações que permitam a compreensão da realidade
Regina Brandão, Antonio Afif, Marisa Agresta

Ao treinar um atleta nos aspectos técnicos, táticos e físicos, deve-se levar em conta todos os fatores que possam interferir em seu desempenho. Ou seja, é necessário entender que há pela frente complexos desafios, inerentes a um ser humano. Por isso, nosso olhar deve ser expandido para além daquelas questões comuns ao dia-a-dia de um treino. Um trecho do artigo escrito pelo professor Manuel Sérgio para a Cidade do Futebol esclarece um pouco mais o tema:

“O futebol é a modalidade desportiva que mais entusiasmo desperta no mundo todo. Mas, como motricidade humana que é, dele emerge a complexidade humana: o físico, o biológico e o antropossociológico. O futebolista que provoca admiração e espanto não tem só qualidades físico-biológicas invulgares. Com uma ou outra exceção ele é também um homem com um psiquismo forte, de autêntico vencedor”.

É inegável a grande contribuição que os preparadores físicos brasileiros deram ao futebol nas últimas décadas. Porém, o modelo de trabalho adotado pelos profissionais da área começa a dar sinais de esgotamento.

O professor João Paulo Medina, em artigo para a Cidade do Futebol, observa que os mesmos princípios utilizados outrora para a obtenção de resultados, hoje já não são tão consistentes, em virtude das mudanças paradigmáticas ocorridas na evolução do conhecimento e, por extensão, nas ciências do esporte nos últimos tempos.

O paradigma fundamentado na especialização que, de forma especial no século XX, trouxe tantos resultados práticos às diferentes áreas do conhecimento científico, hoje não consegue mais se sustentar com a mesma força. O grande desafio dos novos profissionais do século XXI será descobrir como continuar sendo competentes dentro da especificidade de sua área e, ao mesmo tempo, ter uma noção, a mais abrangente possível, de todo o contexto em que sua prática se realiza.

Portanto, já não basta saber cada vez mais sobre um campo cada vez mais restrito de atuação. Gradativamente, o preço desse processo tem sido o distanciamento das melhores ações que permitam a compreensão da realidade.

Em outras palavras, poder-se-ia dizer que o que se espera dos profissionais hoje em dia é que continuem sendo especialistas, mas ao mesmo tempo sejam também interdisciplinares, multifuncionais e tenham uma visão de conjunto. Além disso, é necessário que suportem bem as pressões e dificuldades, sejam críticos e criativos, tenham grande rapidez de respostas e possuam alta capacidade de aprendizagem.

Buscar esse perfil não é coisa simples. Exige grande esforço, determinação e compromisso daqueles que querem estar à frente de seu tempo, buscando permanentemente novas soluções para os desafios profissionais e da vida.

Na tentativa de explicitar dois modelos paradigmáticos, estimulando ou provocando uma reflexão crítica sobre o tema, serão apresentadas oito teses que tentam caracterizar cada uma das tendências.

A idéia foi simular os dois modelos, contrapondo o preparador físico tradicional, com sua visão tecnicista e reducionista, e outro tipo de profissional, emergente, ao qual chamaremos de motricista desportivo, em face de sua perspectiva bem mais abrangente na qual enfoca os movimentos e as atitudes dos atletas diante da realidade social em que vivem.

Oito teses sobre os dois modelos:

Tese 1: Dimensão Biológica x Dimensão Histórico-Cultural
Preparador físico tradicional – dá ênfase às dimensões biológicas ou biopsicológicas do atleta, tendendo a uma compreensão tecnicista e reducionista do treinamento e do desempenho esportivo de uma forma geral.
Motricista desportivo – dá ênfase ao ambiente sociocultural e à história concreta de cada atleta sem, entretanto, desconsiderar as outras dimensões.

Tese 2: Movimento Mecânico x Movimento Expressivo
Preparador físico tradicional – tem preocupação centrada no “físico”, ou seja, no movimento em seus aspectos mais mecânicos, voltados ao rendimento físico-desportivo.
Motricista desportivo – tem preocupação centrada no movimento como expressão de cultura, também em busca da melhor performance dos atletas, mas em sintonia com o significado da valorização humana, por meio da prática esportiva.

Tese 3: Individualismo x Individualidade
Preparador físico tradicional – reforça, consciente ou inconscientemente, o individualismo, ao descontextualizar a prática desportiva das contradições sociais em que os atletas vivem concretamente.
Motricista desportivo – entendendo o atleta (ser humano) como sujeito e produto da história, procura combater o individualismo (visão dominante em nossa sociedade), respeitando a individualidade em busca da cidadania dos atletas.

Tese 4: Aspectos Anatomofisiológicos x Sentido da Existência
Preparador físico tradicional – preocupa-se quase que exclusivamente com os aspectos anatomofisiológicos dos atletas, em que muitas vezes até os aspectos psicológicos têm uma importância apenas periférica ou complementar.
Motricista desportivo – preocupa-se permanentemente com o sentido da existência em todos os seus aspectos (físico-fisiológicos, psicológicos, emocionais, espirituais e sociais), buscando conscientizar seus atletas a partir da própria especificidade da prática esportiva.

Tese 5: Visão Dualista x Visão Global de Corpo
Preparador físico tradicional – entende o corpo de forma dualista ou pluralista (corpo-mente, corpo-alma, corpo-mente-espírito), fragmentando, segmentando ou “departamentalizando” o processo em busca da performance. Nesta visão, o corpo não é muito mais do que um conjunto biológico formado por ossos, músculos, nervos, pele, secreções e excreções. Às vezes (para os mais radicais), o corpo é confundido com uma máquina em busca de rendimento, de resultados.
Motricista desportivo – busca entender o corpo de forma global, ou seja, como um sistema bioenergético que estabelece relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo ou a natureza, em que a performance esportiva pode servir de caminho para o desenvolvimento humano mais amplo. Nesta perspectiva, o corpo, a natureza e a sociedade devem ser compreendidos dentro de um conjunto integrado.

Tese 6: Autoritarismo x Autoridade
Preparador físico tradicional – em razão de o universo de seu saber ser essencialmente técnico (tecnicista), tende a estabelecer uma relação autoritária com seus atletas, pois nesta visão o “professor” é o único detentor de conhecimento no processo de aprendizagem em busca do desempenho. Nesta perspectiva, o preparador sabe tudo (sobre as técnicas de treinamento) e o atleta nada sabe. Portanto, quem sabe (o professor) ensina, quem não sabe (o atleta), aprende.
Motricista desportivo – com uma sólidade visão de homem e de mundo, conquista a autoridade e o respeito entre seus atletas. Sua autoridade, portanto, não se esgota apenas em sua competência técnica, mas avança para perceber, de forma mais ampliada, o significado de suas expressões e manifestações de vida, em que a cultura corporal e esportiva se inserem. Nesta perspectiva, há uma permanente interação entre o professor e o atleta. Embora ele (professor) saiba algo que seus atletas ainda não sabem, está sempre aberto e aprendendo com eles.

Tese 7: Expontaneísmo x Intencionalidade
Preparador físico tradicional – tem, muitas vezes, uma visão ingênua do fenômeno esportivo, considerando-o, em geral, saudável e educativo, independentemente das intenções (boas e/ou más) que inspiram todas as ações humanas. Não se dá conta de que o esporte pode levar a uma prática doentia e não educativa, se não houver intencionalidade na direção oposta, ou seja, da prática saudável e educativa.
Motricista desportivo – para além de seus objetivos específicos de rendimento, buscando conquistas e vitórias, vê a prática esportiva como um instrumento que pode favorecer o desenvolvimento humano, perseguindo conscientemente a justiça, a fraternidade e a solidariedade entre os homens, caso haja esta intencionalidade por trás das práticas esportivas.

Tese 8: Objeto de Produção x Busca da Transcendência
Preparador físico tradicional – o atleta é visto quase como uma máquina e o corpo com um objeto de produção, reprodução e consumo. Não é sem razão que, nesta perspectiva, os jogadores de futebol são tratados como “peças de reposição”.
Motricista desportivo – vê o atleta como um ser verdadeiramente humano, ou seja, um ser carente em busca de sua transcendência (auto-superação permanente) e de sua realização como profissional competente, mas também como ser social que contribui para o desenvolvimento da sociedade em que vive.

(*) O presente texto é parte do capítulo escrito pelos autores para o livro Futebol, Psicologia e a Produção do Conhecimento, da Coleção Psicologia do Esporte e do Exercício – Vol. 3, Editora Atheneu, 2008, p. 149-173, organizado por Maria Regina Ferreira Brandão, Afonso Antonio Machado, João Paulo Medina e Alcides Scaglia.

Iniciação: técnica descontextualizada ou compreensão do jogo?

Entenda a complexidade do jogo e a individualidade da criança que está ao seu lado, assim sua formação será completa!
Rodrigo Vicenzi Casarin

Sabe-se que o processo de iniciação no futebol deve ser realizado de forma paulatina, respeitando as necessidades e individualidades das crianças. Porém, o que observamos nos campos tupis-guaranis são “mini-craques” realizando atividades estafantes, monótonas, fora do contexto real do jogo, visivelmente impróprias para seu estado maturacional, objetivando apenas os aspectos técnicos.

Nessa linha de raciocínio, Garganta (1998) afirma que o ensino do jogo centrado principalmente na técnica individual é uma conseqüência da transposição direta de meios e métodos do treino das modalidades individuais para as coletivas, sem levar em consideração a especificidade estrutural e funcional desse último grupo de modalidades.

Diante disso, muitos professores-treinadores entendem que as crianças não devem começar a jogar futebol até que não possuam o domínio correto de todas as técnicas, desconsiderando, assim, as outras dimensões do jogo.

Se analisarmos que a iniciação, de acordo com Gomes (1999), é a fase onde irá desenvolver o ser como um todo, propiciando a formação e preparação multilateral e harmoniosa, formando uma base sólida através da diversificação das atividades, constituindo-se, mais tarde, como alicerce para as etapas seguintes, percebemos que o único meio multilateral, que desenvolve a criança como um todo, é o jogo.

Portanto, é sem fundamento nossas crianças treinarem apenas aspectos técnicos, como cruzamentos, desarmares, passes, finalizações, entre outros, sem vivenciarem por inteiro as demais dimensões do jogo. Ou seja, de nada adianta termos jogadores que executam com perfeição os gestos técnicos, se os mesmo apresentam deficiências ao nível da compreensão do jogo.

Voltando aos primórdios do nosso futebol, notamos que a aprendizagem era feita de uma forma não organizada, na rua; com bolas de diferentes tamanhos; através de jogos reduzidos de 2x2, 3x3; em espaços variados; e com um conjunto diversificados de situações-problemas.

É evidente que as crianças de hoje não são as mesmas de antigamente e que o futebol atual requer novos ensinamentos e novas exigências. Entretanto, não podemos descartar um acervo de atividades, com constantes tomadas de decisões, por atividades que não garantam a compreensão do jogo e um jogar inteligente.

Corroborando essa idéia, Vikers (2000) afirma que os exercícios baseados na tomada de decisão promovem, a longo prazo, melhores resultados na capacidade de adaptação às exigências do jogo. Já em curto prazo, o ensino tradicional centrado nos comportamentos estereotipados (técnicas) apresenta vantagens aparentes numa fase inicial da aprendizagem, não sendo confirmadas, mais tarde, na capacidade de interpretação do jogo.

Sendo assim, se seguirmos no “curto prazo”, continuaremos a formar atletas com comportamentos pré-estabelecidos, incapazes de lidar com situações adversas, fugindo do aprendizado específico que tiveram desde a época de menino na escolinha. Dessa forma, se o aluno, na iniciação, prosseguir reproduzindo determinados movimentos, ditos perfeitos, nunca entenderá a globalidade, a imprevisibilidade e a variedade situações - problemas que acontecem no decorrer do jogo.

Após essa breve reflexão, entendo que as idéias acima são suficientes para tentarmos modificar alguns vícios que perpetuam o ensino do futebol. Portanto as metodologias baseadas no jogo e sua compreensão trazem novos horizontes para o ensino do esporte.

Diante desta perspectiva, listo cinco sugestões sucintas, que podem contribuir para os professores-treinadores elaborarem seus planejamentos:

1 - Como a iniciação requer alguns cuidados em suas atividades, o processo de ensino-aprendizagem o deve apresentar uma gama de brincadeiras em forma de jogos que desenvolvam os aspectos lúdicos;

2 – Proporcionar contato com diversos matérias dentro dos jogos;

3- Definir o princípio do jogo a ser trabalhado (penetração, contenção) de forma simples, já que a compreensão geral do jogo nessa fase ainda é limitada.

4 - Aumentar progressivamente a complexidade das atividades. Exemplo: jogos situacionais (1x1, 1x1 + 1, 2x1 ...) e jogos reduzidos (regras adaptadas dependendo dos objetivos da sessão, como zonas de finalização, zonas de 3 toques, zonas livres quanto a toque, passar a bola entre todos companheiros para finalizar a gol, etc.);

5- Utilizar preceitos do voleibol, como o rodízio dos atletas, seja nos jogos reduzidos ou jogos situacionais. Nessa situação haverá uma troca constante de posições. Em tese, os alunos trocarão de posições e tarefas após um determinado tempo, experimentando as diversas situações impostas pelo jogo naquela determinada zona do campo.

Para finalizar, se quisermos no futuro jogadores inteligentes e universais, que entendam as situações-problema do jogo nos vários setores do campo, é fundamental utilizarmos o jogar. Esse jogar não é entregar uma bola e sentar na casamata ou realizar exercícios descontextualizados; é planificar jogos que desenvolvam a criatividade, a liberdade intuitiva e as tomadas de decisões, que é a maior atividade do jogo.

Crie e adapte. Entenda a complexidade do jogo e a individualidade da criança que está ao seu lado, assim sua formação será completa!

domingo, 12 de julho de 2009

As fases de treinamento das categorias de base: como determiná-las?

Os jovens jogadores devem passar por todas as etapas, sem que haja exageros de exigências de força, psicológica, técnica ou tática
Marcelo Iglesias

Como devem ser preparados os jovens que futuramente serão os grandes nomes do futebol brasileiro? Essa é uma questão presente em todos os clubes. Por conta disso, esse foi um dos temas debatidos durante o II Congresso Brasileiro de Ciências do Futebol, realizado entre os dias 3 e 5 de julho, no auditório do Corinthians.

Tendo em vista que os jogadores de futebol iniciam suas carreiras ainda muito novos e têm o seu auge profissional poucos anos após começarem a atuar por equipes profissionais, um dos dilemas daqueles que trabalham com as categorias de base é como devem ser divididas as etapas de treinamento desses jogadores.

“O treinamento dos atletas da categoria de base é dividido em generalizado, o qual é feito dos seis aos 14 anos de idade, e especializado, que é dado aos maiores de 14 anos”, explicou Sandro Sargentim, preparador físico responsável pelas categorias de base do Corinthians. “O treinamento generalizado é dividido em iniciação (dos seis aos 10 anos) e em formação atlética (dos 11 aos 14 anos). Já o treinamento especializado é fragmentado em especialização (dos 15 aos 17 anos) e alta performance (para os maiores de 17 anos)”, concluiu.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Princípios do Treinamento Desportivo


Por: Emerson Paim
PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS
a) Princípio de unidade funcional
b) Princípio da multilateralidade
c) Princípio da especificidade
d) Princípio da sobrecarga
e) Princípio da supercompensação
f) Princípio da continuidade
g) Princípio da progressão
h) Princípio da individualidade
i) Princípio da Perspecitva Evolutiva
j) Princípio da Recuperação
l) Princípio da Participação Ativa e Consciente do Treino
m) Princípio da Transferência
n) Princípio da Periodização
o) Princípio da Adequação

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PRINCIPIO DA UNIDADE FUNCIONAL
Conceitos Básicos:
O organismo funciona como um todo indissolúvel;
Uma falha em algum órgão ou sistema prejudica o treinamento;
Atenção ao desenvolvimento harmônico dos diferentes sistemas;
O desenvolvimento de uma Q.F. pode induzir ao prejuízo de uma segunda.

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PRINCIPIO DA MULTILATERALIDADE
Atenção especial em relação ao trabalho com crianças;
Atletas com maior domínio de movimentos, apresentam uma maior variedade de ação motriz e como conseqüência, desenvolve uma maior capacidade de assimilar novas técnicas e métodos de treinamento mais complexos, levando em consideração que uma aprendizagem nasce sobre outros esquemas motores já adquiridos;
O problema da especialização de forma precoce:
Evolução em um determinado ponto;
Involução em outros órgãos, sistemas ou habilidades;
Preparação unilateral
HEGEDUS:
“A especialização é um freio ou uma barreira para o sucesso no alto rendimento”
Multilateralidade Geral - Quando a criança pratica várias modalidades esportivas.
Multilateralidade Específica - Quando a criança pratica todas as possibilidades que são oferecidas por um só esporte.

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PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE
Adaptações fisiológicas específicas;
Tipo de treinamento para desenvolver determinada Q. F.;
Formas de avaliação;
Modelos de treinamento de atletismo aplicados a modalidades coletivas;
A especificidade no contexto do macrociclo;
rendimento (Bompa apud Manso et ali, 1996).

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PRINCIPIO DA SOBRECARGA
• Aplicação de um esforço específico visando estimular uma resposta adaptativa desejada, sem produzir um processo de desgaste físico exagerado.
• Ponto fundamental:
- Superar o limite inferior de esforço;
- Não atingir o limite superior de esforço.

“O ponto ideal de treinamento corresponde a uma carga física quando a intensidade e/ou volume são suficientes para provocar uma ativação do metabolismo energético ou plasmático da célula, em conjunto com a síntese de novas substâncias” (Burke, 1991)
Ponto de desgaste - nos primeiros anos de treinamento o volume deve aumentar progressivamente, mas na medida que o atleta melhora o nível, a importância do volume vai diminuindo e o fator intensidade deverá ter prioridade.
REFERENCIAIS P/ DETECCÃO DA FADIGA:
Alterações na capacidade de rendimento:

Diminuição na capacidade de trabalho;

Aumento da FC x nível de carga;

Aumento do consumo de oxigênio (submáximo);

Aumento da ventilação (submáximo);

Diminuição da força; diminuição da coordenação;

Aumento dos erros técnicos.

Alterações no estado geral:

Cansaço geral;

Insônia; sudorese noturna;

Perda de apetite; Perda de peso;

Amenorréia; cefaléias; náuseas;

Distúrbios gastrointestinais;

Dores musculares ou tendinosas;

Diminuição das defesas; Febre;

Reativação da herpes.
Avaliacão Clínica:

Aumento do ácido úrico;

Aumento do amoníaco basal;

Elevação da creatinaquinasa;

Aumento do cortisol basal;

Diminuição da testosterona livre;

Aumento do K no sangue;


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PRINCÍPIO DA SUPERCOMPENSAÇÃO
Com a aplicação de estímulos de treinamento, produz-se alterações estruturais, tanto somática como funcionais, provocando no período de recuperação o retorno aos níveis iniciais e inclusive de melhora.
Fatores que interferem na composição da curva:

Volume; Intensidade;

Qualidade Física treinada;

Nível de condicionamento físico do praticante;

Condições climáticas;

Alimentação (antes-durante-depois).
Modelos de supercompensação

Formas de adaptação

Neural - Coordenação
Somático:

Aumento da espessura dos miofilamentos;

Aumento do número de capilares por sessão muscular;

Aumento da resistência dos tecidos conectivos;

Incremento das reservas energéticas;

Hiperplasia.


________________________________________
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
- Ganho de performance;
- Manutenção dos níveis atingidos;
- Período de interrupção.
Fatores intervenientes:

Lesões;

Doenças;

Sociais;

Período do treino - Pré-competição
Indivíduos treinados recuperam mais rapidamente;
Redução da carga após um período de afastamento — procedimentos.

________________________________________
PRINCÍPIO DA PROGRESSÃO

Rege que o aumento da carga de treino deverá ser de forma gradual, esperando para que ocorra uma adaptação geral;

Principais parâmetros de controle: Volume + Intensidade;

Princípio ondulatório;

Quando não se segue uma progressão coerente, não se obtém nenhum benefício e a vida esportiva do atleta será prejudicada;

Evolução da sobrecarga.
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PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIDADE
Elaboração do programa ideal de treino


Costumes;

Gosto;

Necessidades;

Adaptado;

Meta.

Fatores que afetam a resposta individual

Genética;

Descanso e sono;

Meio ambiente;

Maturação;

Saúde, nutrição;

Motivação — perfil psicológico;

Nível de condição.


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PRINCÍPIO DA PERSPECTIVA EVOLUTIVA
“Quanto mais treinado é o atleta mais difícil será
obter uma evoIução"
Navarro (1993) propõe após 3 - 5 anos de esforço máximo um período de 6 a 12 meses de regeneração. Clique aqui para ver o gráfico.

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PRINCIPIO DA RECUPERAÇÃO
Acão recuperativa com o exercício

Durante o macrociclo;

Durante o mesociclo;

Durante o microciclo;

Durante a sessão ou dia de trabalho — exercício recuperadores.

Outras formas de acelerar o processo de recuperação:

Emprego de meios mecânicos e/ou naturais de recuperação;

Produtos recuperadores — meios e métodos ergonutricionais.

Emprego de meios mecânicos e/ou naturais de recuperação:

Raios ultravioletas;

Eletroestimulação;

Crioterapia;

Oxigenoterapia;

Hidroterapia (duchas, banhos à vapor, sauna);

Massagem: (superficial, fricção, percussão, vibração);

Pressão local negativa;

Gravitoterapia.

Produtos recuperadores — meios ergonutricionais:

Dieta com suplementação de hidratos de carbono;

Suporte hídrico;

Meios farmacológicos;

Bicarbonato;

L - carnitina, Ginseng, Arginina, Lisina, Cromo...

Glutamina, Cafeína;

Antioxidantes.


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PRINCIPIO DA PARTICIPAÇÃO ATIVA E CONSCIENTE DO TREINO
Proposta de Harre (1987):

Determinar para o atleta um objetivo de rendimento a se atingido;

Oferecer ao atleta conhecimento estrito à tarefa de treinamento;

Formular exigências que requeiram reflexão, iniciativa e responsabilidade por parte do atleta;

Educar ao atleta para que seja capaz de se avaliar;

Confiar responsabilidades de condição pedagógica a atletas apropriados;

Capacitar ao atleta para efetuar um controle consciente de sua própria seqüência de movimentos;

Possuir um registro próprio de controle dos resultados e compara-los com os anteriormente realizados e com o realizado na realidade.


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PRINCIPIO DA TRANSFERÊNCIA
A transferência de um tipo de treino poderá ser positiva, negativa ou nula.

Lateral ou horizontal - Futsal — futebol

Vertical - Progressão de dificuldade de tarefas. Ex. mortal – mortal c/ giro.
Problemas relacionados com a transferência

trabalho de musculação;

aprendizagem de um novo movimento;

modificar um movimento técnico já sedimentado;

aprendizagem de transmissão cruzada;

de uma modalidade à outra.


________________________________________PRINCÍPIO DA PERIODIZAÇÃO

Razões fundamentais para a estruturação do treino em períodos:

O atleta não pode manter por muito tempo a forma, por limitações fisiológicas;

As trocas periódicas da estrutura e conteúdo do treinamento são uma condição necessária para o aperfeiçoamento atlético visando poder alcançar um novo e superior degrau no desenvolvimento do atleta.
(Fortaleza & Ranzola, 1988)



________________________________________PRINCIPIO DA ADEQUAÇÃO

Existe um ponto ideal de treino em que a solicitação não pode ser baixa ao ponto de provocar uma desmotivação ao atleta, nem excessivamente forte ao ponto de prejudica-lo ou induzi-lo também a uma condição desmotivante.
Treino — Prazer — Objetivo — triunfo — Nova situação problema

Ir de pouco p/ muito

Do fácil p/ o complexo

Do conhecido p/ o desconhecido


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PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS
a) Princípio de participação ativa e consciente no T.D.
b) Princípio da transferência do treinamento
c) Princípio da acessibilidade.

terça-feira, 7 de julho de 2009

A importância da formação acadêmica em Educação Física para a atuação do técnico de futebol: breve reflexão

Para que um técnico consiga liderar toda a comissão que lhe cerca é essencial que ele tenha conhecimentos para debater as melhores condutas em cada área
Luis Felipe T. Polito
Assim como existem fortes conhecimentos populares em todas as áreas do conhecimento humano, com o futebol não poderia ser diferente, e talvez o maior e mais prejudicial senso comum que norteia o mundo desta modalidade esportiva, e também de outras, é o fato de que para ser um bom técnico é necessário ter sido um dia atleta daquela modalidade.

Em primeiro lugar, seria interessante citarmos o atual cenário jurídico a respeito da atuação do técnico de futebol. A Lei 9.696, de 1º de setembro de 1998, regulamentada pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em seu terceiro artigo preconiza que:

“Compete ao Profissional de Educação Física coordenar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades físicas e do desporto.” (BRASIL, 1998).

Pôde-se verificar no artigo supra-citado que a legislação reserva aos profissionais de Educação Física o direito de exclusividade no planejamento, direção e organização do desporto em geral, dentre eles o futebol.

Além disso, podemos buscar na lei 6.354, de 2 de setembro de 1976, outorgada pelo então Presidente da República Ernesto Geisel, que, em seu vigésimo sétimo artigo preconiza:

“Todo ex-atleta profissional de futebol que tenha exercido a profissão durante 3 (três) anos consecutivos ou 5 (cinco) anos alternados, será considerado, para efeito de trabalho, monitor de futebol”. (BRASIL, 1976).

Pôde-se perceber que o profissional que atua no futebol, mas que não possui formação técnica em Educação Física não pode, em termos legais, ser considerado Técnico de futebol, e sim monitor de futebol.

Com os termos legais já vistos, poderemos migrar para aspectos mais práticos.

Em entrevista ao jornal Lance!, do dia 20 de agosto de 2006, na página 15, ao ser perguntado sobre a preparação física, o então técnico do Sport Club Corinthians Paulista, Emerson Leão, proferiu a seguinte resposta: “Qualquer coisa que será feita aqui, passará pelo meu crivo, até porque eu me formei em educação física em 1973”. Drubsky (2003), ao retratar em seu livro o modelo organizacional de uma equipe do futebol brasileiro, coloca, liderando a comissão técnica, o técnico de futebol. O mesmo autor ainda afirma ser este profissional o responsável pela maior parte das decisões ligadas ao futebol. Não com isso, dizendo que o mesmo deve ministrar a preparação física, o departamento de fisiologia, o departamento de nutrição e assim por diante, porém o mesmo deveria ter conhecimento suficiente para compreender os diferentes processos relacionados ao desporto, desde o aspecto tático até o departamento de fisiologia, por exemplo.

Para exemplificar a idéia defendida, podemos lembrar do Princípio da Especificidade do Treinamento Desportivo, que preconiza que as adaptações ocorridas com o treinamento serão altamente específicas ao tipo de treinamento que será empregado, à sua freqüência, volume, intensidade, meio e método, por exemplo: o atleta de maratona deve realizar treinos relativamente intensos, porém, com alto volume, enfatizando assim, o sistema aeróbio, fundamental para o sucesso desportivo nesta dada modalidade. (MONTEIRO, 2006; WILLMORE & COSTILL, 2001). Barros & Valquer (2004) informam que o futebol é uma modalidade esportiva caracterizada por esforços intensos e breves, acompanhados de intervalos de recuperação. Desta forma, pode-se dizer que o método de treinamento mais adequado ao futebol, respeitando o Princípio da Especificidade é o Método Intervalado, caracterizado por períodos destinados aos estímulos e períodos destinados à recuperação (GARRETT & KIRKENDALL, 2003; McARDLE, KATCH & KATCH, 2003; MONTEIRO, 2006; WEINECK, 2003; PLATONOV, 2008). Este método de treinamento foi primeiramente escrito por Reindell e Roskamm e popularizado pelo campeão olímpico Emil Zatopek, em 1950 (VERONIQUE, 2001). Se um atleta de futebol que atuava aproximadamente na década de 1940-1950, onde havia predominância do treinamento contínuo, que se caracteriza por não apresentar intervalos de recuperação, com volume de treinamento muito alto, o mesmo poderá acreditar, como técnico, que o método de treinamento físico que deveria ser empregado aos seus atletas deveria ser este, podendo até, contrariar as sugestões do responsável pela preparação física. A partir deste breve fato, pode-se verificar a essencialidade da formação teórica do técnico de futebol, ou melhor dizendo, a importância da formação universitária em Educação Física.

Se para os técnicos de futebol a formação universitária em Educação Física se torna importante, pode-se duplicar esta importância para aqueles técnicos que estão envolvidos com as categorias de base, ou seja, estão envolvidos com o treinamento de crianças e adolescentes, que possuem suas especificidades no âmbito psicológico, fisiológico, motor e cognitivo. Frisselli & Mantovani (1999) afirmam que os técnicos de futebol necessitam observar e relevar o fato de que antes de serem jogadores de futebol, as crianças e adolescentes são seres humanos que estão passando por complexos processos de crescimento e maturação. Korsakas & De Rose Junior (2002) afirmam que o treinamento empregado com crianças e adolescentes não possui especificidade para estas faixas etárias, sendo uma cópia daqueles programas de treinamento aplicados com os adultos, a não ser pela redução da bola, do tempo de jogo e assim por diante, o que é extremamente errado, uma vez que, como já dito anteriormente, crianças e adolescentes possuem um “universo” de conhecimentos a parte.

Bibliografia:

BARROS, T. L. & VALQUER, W. Preparação física no futebol. In: BARROS, T. L. & GUERRA, I. Ciência do futebol. Barueri, São Paulo: Manole, 2004, p.21-38.

BRASIL. Lei nº 6.354, de 2 de setembro de 1976. Dispõe sobre as relações de trabalho do atleta profissional de futebol e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 02/09/1976.

BRASIL. Lei nº 9.696, de 1 de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 02/09/1998.

DRUBSKY, R. O universo tático do futebol: escola brasileira. Belo Horizonte: Editora Health, 2003, 336 p.

GARRETT JUNIOR, W. E.; KIRKENDALL, D. T e colaboradores. A ciência do exercício e dos esportes. Porto Alegre: Artmed, 2003. 911 p.

JORNAL LANCE. Falamos com... Émerson Leão. Jornal Lance!, São Paulo, 20/08/2006, p. 14-15.

KORSAKAS, P. & De ROSE JÚNIOR, D. Os encontros e desencontros entre esporte e educação: uma discussão filosófico-pedagógica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. v. 1, n. 1, pg 83-93, 2002.

McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 5ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2003, 1113 p.

MONTEIRO, A. G. Treinamento personalizado: Uma Abordagem Didático-Metodológica. 6. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2006. 199 p.

PLATONOV, V. N. Tratado geral de treinamento desportivo. São Paulo: Phorte Editora, 2008, 887 p.

VERONIQUE, B. L. Interval Training for performance: a scientific and empirical practice: special recommendations for middle and long distance running part I: aerobic interval training. Sports Medicine. v. 31, n. 1, p. 13-31, 2001.

WEINECK, J. Treinamento Ideal. Barueri, São Paulo: Manole, 2003,740 p.

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2ª ed. São Paulo, Manole, 2001. 709 p.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Futebol e educação

Futebol e educação: como podemos utilizar a modalidade para o ensino?
O Brasil, apesar de ser o país com maior destaque no futebol, usa pouco o esporte para auxiliar na educação de crianças e jovens
Marcelo Iglesias
Uma iniciativa ainda pouco trabalhada é a utilização do futebol como uma possibilidade pedagógica por meio de uma proposta co-educativa. Usar a modalidade com uma intencionalidade pedagógica é compreender a enorme relevância social que esse esporte possui para os brasileiros, sendo criador de um sentimento de orgulho nacional.

Na tentativa de explicitar a importância da relação da pedagogia com o futebol, é interessante que iniciemos a análise tratando da brasilidade da modalidade (DaMatta, 1982; 1994). Prova dessa ligação ímpar que o povo brasileiro possui com o esporte são as páginas e páginas de jornal, horas e horas das programações de TV e rádios dedicadas às notícias e às análises sobre o tema.

“Utilizar o futebol como um instrumento de ensino, para ajudar a criança e o jovem a completar o seu desenvolvimento moral, é facilitado, no Brasil, porque nós temos vivência diária com a modalidade”, afirmou Tânia Leandra Bandeira, bacharel em Ciências do Esporte, mestre em Estudos Neurológicos e Psicológicos na Educação Motora e no Esporte e doutoranda em Educação Física e Sociedade, todos títulos concedidos pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Se é verdade que as partidas de futebol dos campeonatos oficias são espetáculos grandioso, tratados pela mídia como produto de altíssimo valor, também é verdade que a maioria dos jogadores brasileiros da modalidade iniciou suas carreiras nos mais democráticos jogos de várzea.

“O fato do brasileiro ver, ouvir falar, e jogar futebol no seu tempo livre, encaminha bem para o fato de que a população do Brasil gosta do jogar, gosta do jogo”, comentou Adriano de Souza, mestrado em Pedagogia do Esporte e atuante na área de Coaching Education na Illinois State University, nos EUA. “Acredito que a nossa cultura esportiva, e o fato de sempre assistirmos futebol pela TV, ou até mesmo no nosso bairro, faz com que tenhamos uma característica de gostar de jogar e de competir”, completou.

Ou seja, a relação do espectador é de intimidade, sensação provinda da familiaridade com o futebol. O que é encenado nas telas já foi muitas vezes encenado nos campos de terra, nas estreitas ruas de comunidades pobres, em terrenos baldios, etc.

Nenhum povo é reconhecido no mundo da forma como o brasileiro é pelo futebol. Nenhum país no planeta tem uma relação tão umbilical, formativa e existencial como a relação do brasileiro com a modalidade. O jeito brasileiro de jogar futebol mistura a ginga do samba, em que o jogar bem esteticamente, muitas vezes, é mais importante do que até mesmo ganhar a partida.

“Ensinar por meio do futebol é muito fácil no Brasil. O problema é lidar com os outros esportes”, comentou Tania. “Pode-se utilizar os diversos exemplos que se tem para trabalhar questões de motivação e de determinação, contando as histórias e contextualizando-as”, completou a pedagoga.

Se somos únicos no futebol masculino, estamos significativamente defasados no feminino. Vários países da Europa, além dos EUA, possuem uma cultura de futebol feminino muito mais amadurecida do que a em nosso país.

“O futebol feminino é pior onde existe a hegemonia do futebol masculino. Nos EUA, o masculino está correndo atrás do feminino. O Brasil possui uma boa seleção, mas muito poucas meninas jogam futebol no país. Na Itália, que também é um país que vive o futebol, não há muitas meninas jogando, em comparação com os EUA, Suécia, Finlândia e Noruega, por exemplo”, disse Adriano de Souza.

O número de participantes do sexo feminino, a cobertura da mídia, o apoio institucional e os próprios resultados de competição demonstram um grande descompasso entre homens e mulheres na modalidade.

“Aqui nos EUA, cerca de 90% das high schools têm futebol feminino. Muitas das meninas por aqui sonham em ir para a faculdade com bolsas de estudo para jogar futebol. Tem 330 universidades de primeira divisão, e mais várias de segunda e de terceira. No universitário deve haver, pelo menos, 500 equipes de futebol feminino”, contou o atuante em Coaching Education.

Os campeonatos regionais, nacionais, continentais e mundiais são uns dos principais motivadores da conversa cotidiana dos brasileiros. Praticamente todos debatem, analisam, sorriem e sofrem em conversas sobre os jogos de futebol.

Os jogadores, mais do que atletas, são representantes de multidões. Os artilheiros, semideuses, os goleiros vazados, traidores. Os técnicos, a depender dos resultados, transformam-se em grandes generais ou são dispensados. Tudo isso é frequentemente debatido nos lares, bares, escolas, favelas, mansões e em todas as partes do Brasil.

Sendo assim, o futebol pode ser uma forte ferramenta para a pedagogia, principalmente, dentro do Brasil. A identidade e a vivência cotidiana que a população possui com o esporte, é um aspecto que pode e deve ser explorado.

Apesar de algumas lacunas, como a falta de incentivo ao futebol feminino, a modalidade pode ser a solução e um vasto baú de exemplos dos mais diversos aspectos e conceitos encontrados em todas as atmosferas do cotidiano.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

AS VALÊNCIAS FÍSICAS


• FLEXIBILIDADE

• FORÇA DINÂMICA

• FORÇA ESTÁTICA

• FORÇA EXPLOSIVA

• RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA

• RESISTÊNCIA ANAERÓBIA

• RESISTÊNCIA AERÓBIA

• VELOCIDADE DE MOVIMENTOS

• VELOCIDADE DE REAÇÃO

• AGILIDADE

• EQUILÍBRIO

• DESCONTRAÇÃO

• COORDENAÇÃO

• TABELA

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FLEXIBILIDADE

A flexibilidade é uma qualidade física evidenciada pela amplitude dos movimentos das diferentes partes do corpo num determinado sentido e que depende tanto da mobilidade articular como da elasticidade muscular. Os exercícios exigem um músculo estirado ou em extensão, que deve ser máxima, desde a sua origem até o seu ponto de inserção. A musculação pode limitar a flexibilidade mas, se combinado com o trabalho de força, esse prejuízo pode ser evitado, já que sabe-se que não existe impedimentos para a coexistência entre flexibilidade e hipertrofia muscular nas mesmas zonas corporais. O calor auxilia muito o trabalho de flexibilidade. O treinamento da flexibilidade deve ter sessões freqüentes, sempre seguido de um aquecimento. Quando for constatado o aparecimento de dores, deve-se interromper as sessões para que não ocorra qualquer tipo de lesão mais séria. O bom desenvolvimento da flexibilidade facilita o aperfeiçoamento da técnica do desporto em treinamento, dá condições de melhora na agilidade, força e velocidade, auxilia como fator preventivo contra lesões e contusões, entre outros, e provoca um aumento na capacidade mecânica dos músculos e articulações, ocorrendo assim, um aproveitamento econômico de energia durante o esforço.


FORÇA DINÂMICA

Força dinâmica é o tipo de qualidade na qual a força muscular se diferencia da resistência produzindo movimento, ou seja, é a força em movimento. Na maioria dos casos de treinamento esta qualidade física é desenvolvida nas fases de preparação física geral. Pode ser chamada também como força máxima, força pura ou força isotônica. A força dinâmica pode dividir-se em dois subtipos: Força Absoluta, que é o valor máximo de força que uma pessoa pode desenvolver num determinado movimento; Força Relativa, que é o quociente entre força absoluta e o peso coporal da pessoa.


FORÇA ESTÁTICA

A força estática ocorre quando a força muscular se iguala à resistência não havendo movimento. É a força que explica o fato que ocorre a produção de calor mas não ocorrendo o movimento, é também conhecida como força isométrica. A força estática não está evidente em muitos desportos e sim em situações especiais das disputas onde ocorrem oposições para os gestos específicos da modalidade.


FORÇA EXPLOSIVA

Força explosiva é a capacidade que o atleta tem de exercer o máximo de energia num ato explosivo. Pode ser chamado também de potência muscular. A força explosiva deve ser considerada em treinamento desportivo como força de velocidade, exigindo assim que os movimentos de força sejam feitos com o máximo de velocidade. Aconselha-se à força explosiva, um trabalho precedente de coordenação e de domínio do corpo, sendo que, após o mesmo, empregar pequenas cargas com o uso de medicinebol, sacos de areia, pesos leves, entre outros, pela necessidade de não perder-se velocidade de movimentos, além do uso de pequenas cargas possibilitar um maior número de repetições de exercícios.


RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCAL

É a qualidade física que permite o atleta realizar no maior tempo possível a repetição de um determinado movimento com a mesma eficiência. O treinamento da resistência muscular localizada (RML) está condicionada por variáveis fisiológicas e psicológicas como: as condições favoráveis de circulação sangüínea local, uma grande concentração de mioglobina nos músculos locais o que permite maior armazenamento de sangue a nível muscular, a capacidade de consumo de oxigênio durante o esforço e a capacidade psicológica de resistir a uma repetição de esforço no mesmo grupo muscular. O desenvolvimento da RML apresenta alguns efeitos favoráveis: capacidade para execução de um número elevado de repetições dos gestos específicos desportivos; melhor elasticidade dos vasos sangüíneos; melhor capilarização dos músculos treinados; melhor utilização de energia; acumulação mais lenta de metabólitos nos músculos; maiores possibilidades para um trabalho posterior de desenvolvimento de qualquer tipo de força.


RESISTÊNCIA ANAERÓBIA

É a qualidade física que permite um atleta a sustentar o maior tempo possível uma atividade física numa situação de débito de oxigênio. É a capacidade de realizar um trabalho de intensidade máxima ou sub-máxima com insuficiente quantidade de oxigênio, durante um período de tempo inferior a três minutos. O desenvolvimento da resistência anaeróbia em atletas de alto nível possibilita o prolongamento dos esforços máximos mantendo a velocidade e o ritmo do movimento, mesmo com o crescente débito de oxigênio, da conseqüente fadiga muscular e o aparecimento de uma solicitação mental progressiva. A melhoria da resistência anaeróbia está correlacionada aos seguintes efeitos e características nos atletas: aumento das reservas alcalinas do sangue; aumento da massa corporal; melhoria da capacidade psicológica; aperfeiçoamento dos mecanismos fisiológicos de compensação; melhores possibilidades para os atletas apresentarem variações de ritmos durante as performances.


RESISTÊNCIA AERÓBIA

É a capacidade do indivíduo em sustentar um exercício que proporcione um ajuste cárdio-respiratório e hermodinâmico global ao esforço, realizado com intensidade e duração aproximadamente longas onde a energia necessária para realização desse exercício provém principalmente do metabolismo oxidativo. A melhoria da resistência aeróbia provoca os seguintes resultados nos atletas: aumento do volume do coração; aumento do número de glóbulos vermelhos e da taxa de oxigênio transportado pelo sangue; uma capilarização melhorada nos tecidos resultando numa melhor difusão de oxigênio; aperfeiçoamento dos mecanismos fisiológicos de defesa orgânica; redução da massa corporal; melhora da capacidade de absorção de oxigênio; redução da freqüência cardíaca no repouso e no esforço; diminuição do tempo de recuperação; pré-disposição para um ótimo rendimento no treinamento de resistência anaeróbia; aumento na capacidade dos atletas para superar uma maior duração nas sessões de treinamento.


VELOCIDADE DE MOVIMENTOS

É a capacidade máxima de um indivíduo deslocar-se de um ponto para outro. A velocidade de deslocamento depende em grande parte do dinamismo dos processos nervosos atuantes no sistema motor e que tem como variáveis principais as fibras de contração rápida. Pode-se considerar a velocidade de movimentos dependendo de três fatores: amplitude de movimentos, força dos grupos musculares como fatores coadjuvantes, eficiência do sistema neuromotor como fator básico.


VELOCIDADE DE REAÇÃO

A velocidade de reação pode ser observada entre um estímulo e a resposta correspondente. Tem como base fisiológica a coordenação entre as contrações e as atividades de funções vegetativas criadoras dos reflexos condicionados. Assim como a velocidade de movimentos, a de reação está ligada diretamente a predominância das chamadas fibras de contração rápida. A melhor indicação para o seu desenvolvimento é o emprego de um número grande de repetições de exercícios de tempo que poderão provocar automatismos nos gestos rápidos visados.


AGILIDADE

É a qualidade física que permite um atleta mudar a posição do corpo no menor tempo possível. Deve ser desenvolvida desde o período de preparação física geral. O tempo é uma variável importante, o que evidencia a presença da velocidade na agilidade. A flexibilidade também é um pré-requisito para o desenvolvimento da agilidade.


EQUILÍBRIO

O equilíbrio consiste na manutenção da projeção do centro de gravidade dentro da área de superfície de apoio. Apresenta-se de três formas: Equilíbrio Estático, é o equilíbrio conseguido numa determinada posição, e não deve ser treinado em separado nas sessões de preparação física devendo fazer parte dos treinos dos gestos técnicos específicos do desporto visado; Equilíbrio Dinâmico, é o equilíbrio conseguido em movimento e que depende do dinamismo dos processos nervosos, e seu desenvolvimento é obtido pela aplicação de exercícios técnicos do desporto em treinamento, podendo ser trabalhado juntamente com os fundamentos técnicos da modalidade; Equilíbrio Recuperado, é a recuperação do equilíbrio numa posição qualquer e, embora deva ser treinado em conjunto com os gestos técnicos, muitas vezes se impõe um preparo especial paralelo pela evidência de uma deficiência dessa valência em atletas.


DESCONTRAÇÃO

Qualidade física neuro muscular oriunda da redução da tonicidade da musculatura esquelética, apresentandose sob dois aspectos: Descontração Diferencial, é a valência física que permite a descontração dos grupos musculares que não são necessários à execução de um ato motor específico, colaborando para a eficiência mecânica dos gestos desportivos, além dos atletas executarem as técnicas desportivas específicas com um máximo de economia energética; Descontração Total, é a valência física que capacita o atleta recuperar-se dos esforços físicos realizados, estando ligada a processos psicológicos onde tem como variável principal a mente.


COORDENAÇÃO

É a capacidade de realizar movimento de forma ótima, com o máximo de eficácia e de economia de esforços. Qualidade física considerada como um pré-rquisito para que qualquer atleta atinja o alto nível. Tem como variável condicionante o sistema nervoso. A coordenação possui graduações qualificadas como: elementar, fina e finíssima. A coordenação motora é muito exigida no futebol e seus vários elementos técnicos são aplicados em espaços reduzidos com oposição do adversário, com isso, suas ações devem ser realizadas em um pequeno espaço de tempo e nas mais diversas velocidades. Dentre as capacidades coordenativas, as mais importantes para o futebol são: capacidade de orientação, capacidade de adaptação e transformação dos movimentos próprios, capacidade de diferenciação, capacidade de reação, capacidade de combinação.

Identificação das Qualidades Físicas no Futebol
Qualidades Físicas Preparação Técnica Preparação Física
Flexibilidade - Secundária
Força Dinâmica - -
Força Estática - -
Força Explosiva - Imprescindível
Resistência Muscular Localizada - Importante
Resistência Anaeróbia - Importante
Resistência Aeróbia - Imprescindível
Velocidade de Movimentos - Importante
Velocidade de Reação Secundária -
Agilidade Importante -
Equilíbrio Estático - -
Equilíbrio Dinâmico Secundário -
Equilíbrio Recuperado Secundário -
Descontração Diferencial Secundária -
Descontração Total - -
Coordenação Importante -

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sexta-feira, 5 de junho de 2009

DIFICULDADES ENCONTRADAS NOS PEQUENOS CLUBES DE FUTEBOL PROFISSIONAL


DIFICULDADES ENCONTRADAS NOS PEQUENOS CLUBES DE FUTEBOL PROFISSIONAL
Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha
Quando vemos na televisão, nos jornais ou em revistas o sucesso alcançado por clubes como o Cruzeiro e o Santos, a idéia que nos dá é que o futebol brasileiro possui uma certa estrutura e organização, mas a realidade é bem diferente.
Será abordado neste artigo o caso específico dos pequenos clubes do Estado de São Paulo. São Paulo é o Estado que possui a melhor estrutura futebolística do Brasil, mas está longe de ser o paraíso que muitos acreditam. O mais grave é que se a situação em São Paulo não é das melhores, no restante do país é muito pior, chegando a ser calamitosa em alguns lugares.
Voltando ao futebol paulista, a estrutura de seu futebol compreende uma centena de clubes profissionais divididos, em 2004, em cinco divisões.
Enquanto observa-se de um modo geral nos clubes grandes e médios uma situação relativamente satisfatória, com boa estrutura e bons salários para os padrões sociais brasileiros, verifica-se nos pequenos um quadro completamente oposto.
As dificuldades encontradas nessas equipes serão elucidadas a seguir.
Recursos Financeiros
Os clubes sofrem com a falta de dinheiro. Apesar do custo operacional, se comparado aos grandes clubes, não ser elevado, é muito difícil obter um patrocinador fixo que possa sustentar essa despesa. A cada ano que começa é uma nova batalha atraz de recursos e patrocinadores. Outro aspecto que contribui para essa falta de recursos é a inexistência ou inadimplência dos associados.
Elenco
A maioria dos clubes não consegue reunir um elenco que possa representar de forma competitiva e eficiente as aspirações dessa entidade. A cada ano que se inicia é necessário montar uma nova equipe, pois os clubes não mantêm seus jogadores ou quando muito, mantêm os jogadores da cidade. Muitos atletas ou não possuem uma boa capacidade técnica ou são completamente inexperientes. Isso acarreta enormes dificuldades ao treinador para montar uma equipe competitiva.
Material de Trabalho
O material utilizado para a realização do trabalho, que inclui bolas, uniformes de treino, cones, chuteiras, estacas etc., são fatores de fundamental importância na elaboração e realização de um programa de treinamento em qualquer clube de qualquer divisão. Bolas sem qualidade ou em quantidade inferior ao necessário; o mesmo com os uniformes de treino, que em muitos casos são utilizados ano após ano; falta de cones, estacas e cordas. É a realidade encontrada em muitos desses clubes. Existem casos de treinos que precisam ser cancelados ou alterados pela falta ou inexistência de alguns desses itens.
Acomodações
O alojamento é outro item que merece um destaque especial. Existem alojamentos com baixas condições de higiene; chuveiros sem água quente; iluminação inadequada; colchões velhos e estragados; inexistência de locais para os atletas estudarem, lerem ou se reunirem e, falta de locais para recreação, como sala de jogos.
Verificam-se casos de atletas que apresentam dores nas costas por dormirem em colchões estragados, ficam doentes por dormirem em locais úmidos e frios etc.
Alimentação
De fundamental importância para o desenvolvimento de um atleta profissional, a alimentação normalmente não é adequada e assustaria qualquer nutricionista da área esportiva. A variação dos alimentos, como frutas e verduras, normalmente não acontece. O preparo dos alimentos também não é da maneira mais indicada. É muito comum serem alimentos gordurosos e com muita fritura. Normalmente, os empregados responsáveis pelo preparo dos alimentos não estão preparados tecnicamente para fazer a alimentação de um atleta.
As condições de higiene da cozinha também estão longe das ideais. Se a vigilância sanitária fizesse uma fiscalização, a grande maioria delas seria fechada.
A alimentação desses atletas não é satisfatória em quantidade, mas principalmente em qualidade. Falando em qualidade é quase inexistente o uso de suplementos como vitaminas, aminoácidos etc.
Viagens
Com as longas distâncias existentes dentro do Estado de São Paulo, muitas equipes precisam viajar mais de dez horas para realizar uma partida. Em alguns casos as equipes chegam ao local do jogo, no dia da realização do mesmo, isso após viajarem cinco, seis horas. Os atletas dormem e descansam dentro do ônibus. O rendimento certamente será afetado.
Muitos desses ônibus não possuem a mínima condição para realizar esse tipo de viagem. São ônibus velhos e desconfortáveis. Uma curiosidade é que o ônibus quebrar durante o trajeto é uma situação comum enfrentada por essas equipes.
Instalações, Locais de Treinamento e Estádios
A prática mais comum é treinar no próprio estádio. Como foi elucidado anteriormente, os clubes não possuem recursos para alugar campos para treinar e muito menos possuem um centro de treinamento próprio.
Observam-se também campos de treinamento e jogo sem as mínimas condições, com gramados irregulares e esburacados; vestiários sem condições de higiene e espaço.
Os estádios são outros locais que não atendem as exigências do Estatuto do Torcedor. Não existem locais numerados; sinalizações adequadas; sanitários limpos e em funcionamento; conforto mínimo; segurança etc.
Salários
Esse é um aspecto que beira ao ridículo quando se trata de uma profissão, um esporte profissional e o maior esporte no Brasil. A falta de pagamento de salários ou benefícios é uma prática comum, isso porque os salários são baixos, próximos ao salário mínimo nacional. Muitos profissionais não são registrados ou o são com um valor irrisório.
A desculpa de que o clube não tem dinheiro para pagar altos salários, como acontece nos grandes clubes, não pode ser aceita, pois como já foi dito os salários são baixos.
Em parte, o problema dos baixos salários é culpa dos próprios profissionais que acabam aceitando qualquer proposta só para ter a oportunidade de trabalhar em um clube profissional. Com isso, não valorizam seu trabalho e muito menos sua profissão.
Recursos Humanos
Enquanto os grandes clubes têm treinador; preparador físico; auxiliares; médico; roupeiro (mordomo); enfermeiro (massagista); fisiologista; fisioterapeuta; assistente social e psicólogo, os pequenos possuem em muitos casos o mínimo, um treinador, um preparador físico, um enfermeiro, um roupeiro e só. Isso quando alguns poucos não assumem várias funções. Mais uma vez a desculpa é a situação financeira.
Outro problema é a falta de capacitação dos profissionais. Com baixos salários e falta de condições de trabalho, os profissionais que atuam nesses clubes, em muitos casos, não possuem capacitação adequada para o cargo que exercem e a responsabilidade que o mesmo exige.
Observam-se treinadores que não conduzem treinos adequadamente ou são verdadeiros ditadores com métodos de treinamento completamente ultrapassados; preparadores físicos que não evoluíram com os métodos científicos mais modernos e também utilizam métodos de treinamento defasados, isso sem falar de enfermeiros e roupeiros, normalmente indivíduos da própria cidade que precisam trabalhar, mas não possuem conhecimento para a função que exercem.
Os dirigentes deveriam buscar contratar profissionais realmente capacitados para as funções necessárias. Verificar a experiência e o conhecimento desse profissional, assim como é feito em qualquer empresa quando precisa contratar um novo profissional.
Dirigentes
Assim como em alguns grandes clubes, nos pequenos também vemos casos de dirigentes praticamente vitalícios e sem capacitação.
Existem dirigentes que não conhecem a realidade do futebol no século XXI e não se preocupam nem um pouco com a situação dos membros da comissão técnica e dos atletas.
A inexistência de dirigentes profissionais é outro fator que influencia negativamente na administração dos clubes. Os clubes são administrados de forma ultrapassada e amadora. A falta de um trabalho de marketing e de divulgação é um aspecto que atrapalha na obtenção de patrocínios, mas muitos desses dirigentes chegam a desconhecer o significado da palavra marketing.
Política
Assim como em todas as áreas no nosso país, os pequenos clubes de futebol também são influenciados pela política local. A escolha de dirigentes, de patrocinadores e até de participação em alguns torneios, podem sofrer influência de interesses políticos.
Categorias de Base
Quando aqui se fala em categoria de base, refere-se a escolinha, infantil (sub-15) e juvenil (sub-17), pois o juniores (sub-20) além de ser uma categoria quase profissional, todos os clubes do Estado de São Paulo são obrigados a disputar o Campeonato Paulista dessa categoria.
Com a falta de recursos financeiros, os clubes praticamente não investem na base e a grande maioria nem possui equipes dessas categorias. O pior é que os clubes não enxergam que uma das soluções para os problemas financeiros é justamente investir nos garotos. Já que não possuem dinheiro para contratar bons jogadores, a solução seria formá-los dentro de casa.
O que se vê são jogadores com idade de juniores que não possuem experiência, pois quando eram infantis e juvenis não disputaram torneios competitivos.
Novamente, volta-se a desculpa da falta de recursos. Enfatizo que um trabalho de marketing eficiente e direcionado poderia angariar recursos locais para esse trabalho, até porque é um trabalho de baixo custo operacional.
Educação
Não existe um projeto para a educação dos atletas. Muitos abandonam a escola por preguiça ou por acharem que não podem estudar e ser atleta ao mesmo tempo. Existe um total despreparo e desinteresse por parte dos dirigentes com relação à educação de garotos e adultos.
O lado social dos atletas também é deixado de lado. Muitos atletas apresentam problemas de conduta e convívio em grupo, chegando a ocorrer casos de furto e homossexualismo. O mais grave é que os clubes não demonstram interesse em ajudar a solucionar ou minimizar esses problemas.

Muitos garotos ao assistir a televisão e ver o sucesso alcançado no exterior por jogadores como Ronaldo, Kaká, Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Dida e outros, acabam se iludindo e não sabem a grande dificuldade que existe no início de carreira, principalmente em um clube pequeno. Esses garotos abandonam a escola pela chance de vencer no futebol, mas apenas uma minoria atinge o sucesso, a maioria infelizmente não consegue. Muitos acabam em subempregos e até na marginalidade, pois não se prepararam ou não foram devidamente orientados para buscar alternativas fora do futebol.
Acredito que a verdadeira profissionalização dos pequenos clubes somente ocorrerá com a mobilização conjunta dos Conselhos Regionais de Educação Física; prefeitos; empresários locais; dirigentes profissionais, capacitados e honestos; membros da comissão técnica com capacitação, conhecimento, devidamente preparados e credenciados em seus conselhos profissionais.
Quero salientar que essa situação é encontrada na maioria dos clubes, mas não em todos. Existem pequenos clubes que possuem uma boa estrutura, dirigentes e profissionais capacitados. A situação é que muitas equipes, infelizmente, estão falidas e sem uma liderança forte e competente. Encontram-se também clubes que alternam anos de total despreparo e falta de condições, com anos de boas condições e bom trabalho.
O futebol é uma paixão de nosso povo. Os clubes e seus dirigentes deveriam respeitar o cidadão que torce por uma bandeira ou distintivo e, principalmente, respeitar aqueles que procuram honestamente vencer por meio do futebol, inclui-se treinadores, preparadores físicos, atletas e demais profissionais.

Janeiro/2004

Pré-temporada


Medicina preventiva na pré-temporada

A medicina esportiva na pré-temporada:

Metodologia de trabalho e desenvolvimento do programa médico
O período da pré-temporada e aquele que antecede imediatamente, exigem dos profissionais envolvidos com a área de Saúde, um tempo maior de dedicação ao clube, em virtude do planejamento e execução de tarefas específicas de início de trabalho.

Metodologia de trabalho

Fase 1
• Identificação do atleta;
• Avaliação médica.

Fase 2
• Seleção de equipamentos de primeiros socorros e reabilitação;
• Seleção e aquisição de medicamentos;
• Estudo do suporte de atendimento de emergência;
• Pré-temporada.

Fase 3
• Orientação quanto aos aspectos nutricionais e de higiene;
• Palestras: doping, doenças sexualmente transmissíveis (DST);
• Suporte no tratamento e prevenção de lesões.

Desenvolvimento do programa de medicina esportiva

Fase 1 - Identificação do atleta
A identificação do atleta, nesta fase, se faz necessária pela heterogeneidade do grupo. É preciso estudar a faixa etária, diferenças geoculturais, experiência profissional etc.

Fundamentalmente, logo após a apresentação dos atletas, se inicia o processo de avaliação médica, cujos métodos utilizados são os seguintes:

• Anamnese completa;
• Exame clínico rigoroso;
• Exames laboratoriais (análises clínicas);
• Exames complementares de imaginologia;
• Exames de função cardiovascular.

Fase 2 - Fatores a serem considerados
Para o período de aproximadamente duas semanas, destinados à pré-temporada em que o grupo fica afastado do clube (serra, litoral, interior), seleciona-se o equipamento necessário para os primeiros socorros, os medicamentos mais utilizados e todos os aparelhos de fisioterapia que possam ser transportados.

Devem-se prever as enfermidades mais prevalentes da região e época da pré-temporada, bem como se certificar se todos os integrantes encontram-se atualizados com as vacinas (gripe, tétano, febre amarela etc.) e também se todos possuem cobertura por planos de saúde privados ou oferecidos pela própria instituição.

Fase 3 - A pré-temporada
Cabe ao médico, junto com a direção, identificar e manter contato com um sistema suporte de atendimento de urgência próximo ao local de treinamento e hospedagem para aqueles casos em que maiores cuidados e atenção devam ser dispensados.

O espaço físico ocupado provisoriamente pelo setor médico na pré-temporada, deverá ser de fácil acesso e do conhecimento de todos da delegação (ponto de referência), com uma área capaz de comportar massagista, fisioterapeuta e médico, com seus respectivos equipamentos de trabalho.

Muitos atletas ainda jovens e inexperientes desconhecem a atuação de um departamento médico e muitas vezes até evitam a proximidade com os profissionais da saúde. É justamente neste período que o vínculo de confiança pode ser estabelecido mais facilmente.

Orientações relativas ao aspecto nutricional, cuidados de higiene e prevenção de determinadas doenças (DST) são mais bem absorvidas pelos atletas em pequenas palestras com recursos audiovisuais, ou mesmo de maneira informal, individualmente.

As questões de dopagem no esporte e suas implicações e conseqüências, geradas muitas vezes por desconhecimento de regras, e a automedicação, são tópicos que devem ser enfatizados nessas ocasiões.

O cardápio e orientação nutricional, em alguns casos individualizados, são elaborados pela nutricionista, tendo em vista a programação de atividades estabelecida pela comissão técnica.

O médico (na ausência de um nutricionista), que acompanha a delegação assume, neste período, a função de controlar a qualidade das refeições e do cumprimento das recomendações determinadas, mantendo um contato diário com o responsável pela cozinha.

As suplementações energéticas, indispensáveis nesta fase, é também discutida e planejada conjuntamente entre nutricionista, fisiologista e pelos responsáveis pela preparação física, sendo ministrada antes ou após as sessões de treinamento, conforme critérios previamente determinados, sob a supervisão do médico da equipe (dosagem e paraefeitos).

Lesões mais freqüentes na pré-temporada

O rigor de início de um trabalho -a grande maioria dos atletas está retornando de período de férias ou inatividade- implica em uma solicitação do sistema músculo-esquelético que pode gerar lesões por sobrecarga.

As patologias mais comumente verificadas são as tenossinovites, as entesites, as dores na coluna vertebral (lombalgias) e as temíveis dores pubianas.

Embora de gravidade menor, as lesões nos pés, como as bolhas e calos, são freqüentemente observadas e podem prejudicar o desempenho em treinos coletivos e sessões de trabalho físico.

A pré-temporada permite aos médicos e fisioterapeutas observarem os atletas que necessitarão, durante o ano, de cuidados preventivos, para suportarem o calendário de competições, na maioria das vezes, intenso e irregular a que são submetidos.