quinta-feira, 11 de junho de 2009

Futebol e educação

Futebol e educação: como podemos utilizar a modalidade para o ensino?
O Brasil, apesar de ser o país com maior destaque no futebol, usa pouco o esporte para auxiliar na educação de crianças e jovens
Marcelo Iglesias
Uma iniciativa ainda pouco trabalhada é a utilização do futebol como uma possibilidade pedagógica por meio de uma proposta co-educativa. Usar a modalidade com uma intencionalidade pedagógica é compreender a enorme relevância social que esse esporte possui para os brasileiros, sendo criador de um sentimento de orgulho nacional.

Na tentativa de explicitar a importância da relação da pedagogia com o futebol, é interessante que iniciemos a análise tratando da brasilidade da modalidade (DaMatta, 1982; 1994). Prova dessa ligação ímpar que o povo brasileiro possui com o esporte são as páginas e páginas de jornal, horas e horas das programações de TV e rádios dedicadas às notícias e às análises sobre o tema.

“Utilizar o futebol como um instrumento de ensino, para ajudar a criança e o jovem a completar o seu desenvolvimento moral, é facilitado, no Brasil, porque nós temos vivência diária com a modalidade”, afirmou Tânia Leandra Bandeira, bacharel em Ciências do Esporte, mestre em Estudos Neurológicos e Psicológicos na Educação Motora e no Esporte e doutoranda em Educação Física e Sociedade, todos títulos concedidos pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Se é verdade que as partidas de futebol dos campeonatos oficias são espetáculos grandioso, tratados pela mídia como produto de altíssimo valor, também é verdade que a maioria dos jogadores brasileiros da modalidade iniciou suas carreiras nos mais democráticos jogos de várzea.

“O fato do brasileiro ver, ouvir falar, e jogar futebol no seu tempo livre, encaminha bem para o fato de que a população do Brasil gosta do jogar, gosta do jogo”, comentou Adriano de Souza, mestrado em Pedagogia do Esporte e atuante na área de Coaching Education na Illinois State University, nos EUA. “Acredito que a nossa cultura esportiva, e o fato de sempre assistirmos futebol pela TV, ou até mesmo no nosso bairro, faz com que tenhamos uma característica de gostar de jogar e de competir”, completou.

Ou seja, a relação do espectador é de intimidade, sensação provinda da familiaridade com o futebol. O que é encenado nas telas já foi muitas vezes encenado nos campos de terra, nas estreitas ruas de comunidades pobres, em terrenos baldios, etc.

Nenhum povo é reconhecido no mundo da forma como o brasileiro é pelo futebol. Nenhum país no planeta tem uma relação tão umbilical, formativa e existencial como a relação do brasileiro com a modalidade. O jeito brasileiro de jogar futebol mistura a ginga do samba, em que o jogar bem esteticamente, muitas vezes, é mais importante do que até mesmo ganhar a partida.

“Ensinar por meio do futebol é muito fácil no Brasil. O problema é lidar com os outros esportes”, comentou Tania. “Pode-se utilizar os diversos exemplos que se tem para trabalhar questões de motivação e de determinação, contando as histórias e contextualizando-as”, completou a pedagoga.

Se somos únicos no futebol masculino, estamos significativamente defasados no feminino. Vários países da Europa, além dos EUA, possuem uma cultura de futebol feminino muito mais amadurecida do que a em nosso país.

“O futebol feminino é pior onde existe a hegemonia do futebol masculino. Nos EUA, o masculino está correndo atrás do feminino. O Brasil possui uma boa seleção, mas muito poucas meninas jogam futebol no país. Na Itália, que também é um país que vive o futebol, não há muitas meninas jogando, em comparação com os EUA, Suécia, Finlândia e Noruega, por exemplo”, disse Adriano de Souza.

O número de participantes do sexo feminino, a cobertura da mídia, o apoio institucional e os próprios resultados de competição demonstram um grande descompasso entre homens e mulheres na modalidade.

“Aqui nos EUA, cerca de 90% das high schools têm futebol feminino. Muitas das meninas por aqui sonham em ir para a faculdade com bolsas de estudo para jogar futebol. Tem 330 universidades de primeira divisão, e mais várias de segunda e de terceira. No universitário deve haver, pelo menos, 500 equipes de futebol feminino”, contou o atuante em Coaching Education.

Os campeonatos regionais, nacionais, continentais e mundiais são uns dos principais motivadores da conversa cotidiana dos brasileiros. Praticamente todos debatem, analisam, sorriem e sofrem em conversas sobre os jogos de futebol.

Os jogadores, mais do que atletas, são representantes de multidões. Os artilheiros, semideuses, os goleiros vazados, traidores. Os técnicos, a depender dos resultados, transformam-se em grandes generais ou são dispensados. Tudo isso é frequentemente debatido nos lares, bares, escolas, favelas, mansões e em todas as partes do Brasil.

Sendo assim, o futebol pode ser uma forte ferramenta para a pedagogia, principalmente, dentro do Brasil. A identidade e a vivência cotidiana que a população possui com o esporte, é um aspecto que pode e deve ser explorado.

Apesar de algumas lacunas, como a falta de incentivo ao futebol feminino, a modalidade pode ser a solução e um vasto baú de exemplos dos mais diversos aspectos e conceitos encontrados em todas as atmosferas do cotidiano.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

AS VALÊNCIAS FÍSICAS


• FLEXIBILIDADE

• FORÇA DINÂMICA

• FORÇA ESTÁTICA

• FORÇA EXPLOSIVA

• RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA

• RESISTÊNCIA ANAERÓBIA

• RESISTÊNCIA AERÓBIA

• VELOCIDADE DE MOVIMENTOS

• VELOCIDADE DE REAÇÃO

• AGILIDADE

• EQUILÍBRIO

• DESCONTRAÇÃO

• COORDENAÇÃO

• TABELA

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FLEXIBILIDADE

A flexibilidade é uma qualidade física evidenciada pela amplitude dos movimentos das diferentes partes do corpo num determinado sentido e que depende tanto da mobilidade articular como da elasticidade muscular. Os exercícios exigem um músculo estirado ou em extensão, que deve ser máxima, desde a sua origem até o seu ponto de inserção. A musculação pode limitar a flexibilidade mas, se combinado com o trabalho de força, esse prejuízo pode ser evitado, já que sabe-se que não existe impedimentos para a coexistência entre flexibilidade e hipertrofia muscular nas mesmas zonas corporais. O calor auxilia muito o trabalho de flexibilidade. O treinamento da flexibilidade deve ter sessões freqüentes, sempre seguido de um aquecimento. Quando for constatado o aparecimento de dores, deve-se interromper as sessões para que não ocorra qualquer tipo de lesão mais séria. O bom desenvolvimento da flexibilidade facilita o aperfeiçoamento da técnica do desporto em treinamento, dá condições de melhora na agilidade, força e velocidade, auxilia como fator preventivo contra lesões e contusões, entre outros, e provoca um aumento na capacidade mecânica dos músculos e articulações, ocorrendo assim, um aproveitamento econômico de energia durante o esforço.


FORÇA DINÂMICA

Força dinâmica é o tipo de qualidade na qual a força muscular se diferencia da resistência produzindo movimento, ou seja, é a força em movimento. Na maioria dos casos de treinamento esta qualidade física é desenvolvida nas fases de preparação física geral. Pode ser chamada também como força máxima, força pura ou força isotônica. A força dinâmica pode dividir-se em dois subtipos: Força Absoluta, que é o valor máximo de força que uma pessoa pode desenvolver num determinado movimento; Força Relativa, que é o quociente entre força absoluta e o peso coporal da pessoa.


FORÇA ESTÁTICA

A força estática ocorre quando a força muscular se iguala à resistência não havendo movimento. É a força que explica o fato que ocorre a produção de calor mas não ocorrendo o movimento, é também conhecida como força isométrica. A força estática não está evidente em muitos desportos e sim em situações especiais das disputas onde ocorrem oposições para os gestos específicos da modalidade.


FORÇA EXPLOSIVA

Força explosiva é a capacidade que o atleta tem de exercer o máximo de energia num ato explosivo. Pode ser chamado também de potência muscular. A força explosiva deve ser considerada em treinamento desportivo como força de velocidade, exigindo assim que os movimentos de força sejam feitos com o máximo de velocidade. Aconselha-se à força explosiva, um trabalho precedente de coordenação e de domínio do corpo, sendo que, após o mesmo, empregar pequenas cargas com o uso de medicinebol, sacos de areia, pesos leves, entre outros, pela necessidade de não perder-se velocidade de movimentos, além do uso de pequenas cargas possibilitar um maior número de repetições de exercícios.


RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCAL

É a qualidade física que permite o atleta realizar no maior tempo possível a repetição de um determinado movimento com a mesma eficiência. O treinamento da resistência muscular localizada (RML) está condicionada por variáveis fisiológicas e psicológicas como: as condições favoráveis de circulação sangüínea local, uma grande concentração de mioglobina nos músculos locais o que permite maior armazenamento de sangue a nível muscular, a capacidade de consumo de oxigênio durante o esforço e a capacidade psicológica de resistir a uma repetição de esforço no mesmo grupo muscular. O desenvolvimento da RML apresenta alguns efeitos favoráveis: capacidade para execução de um número elevado de repetições dos gestos específicos desportivos; melhor elasticidade dos vasos sangüíneos; melhor capilarização dos músculos treinados; melhor utilização de energia; acumulação mais lenta de metabólitos nos músculos; maiores possibilidades para um trabalho posterior de desenvolvimento de qualquer tipo de força.


RESISTÊNCIA ANAERÓBIA

É a qualidade física que permite um atleta a sustentar o maior tempo possível uma atividade física numa situação de débito de oxigênio. É a capacidade de realizar um trabalho de intensidade máxima ou sub-máxima com insuficiente quantidade de oxigênio, durante um período de tempo inferior a três minutos. O desenvolvimento da resistência anaeróbia em atletas de alto nível possibilita o prolongamento dos esforços máximos mantendo a velocidade e o ritmo do movimento, mesmo com o crescente débito de oxigênio, da conseqüente fadiga muscular e o aparecimento de uma solicitação mental progressiva. A melhoria da resistência anaeróbia está correlacionada aos seguintes efeitos e características nos atletas: aumento das reservas alcalinas do sangue; aumento da massa corporal; melhoria da capacidade psicológica; aperfeiçoamento dos mecanismos fisiológicos de compensação; melhores possibilidades para os atletas apresentarem variações de ritmos durante as performances.


RESISTÊNCIA AERÓBIA

É a capacidade do indivíduo em sustentar um exercício que proporcione um ajuste cárdio-respiratório e hermodinâmico global ao esforço, realizado com intensidade e duração aproximadamente longas onde a energia necessária para realização desse exercício provém principalmente do metabolismo oxidativo. A melhoria da resistência aeróbia provoca os seguintes resultados nos atletas: aumento do volume do coração; aumento do número de glóbulos vermelhos e da taxa de oxigênio transportado pelo sangue; uma capilarização melhorada nos tecidos resultando numa melhor difusão de oxigênio; aperfeiçoamento dos mecanismos fisiológicos de defesa orgânica; redução da massa corporal; melhora da capacidade de absorção de oxigênio; redução da freqüência cardíaca no repouso e no esforço; diminuição do tempo de recuperação; pré-disposição para um ótimo rendimento no treinamento de resistência anaeróbia; aumento na capacidade dos atletas para superar uma maior duração nas sessões de treinamento.


VELOCIDADE DE MOVIMENTOS

É a capacidade máxima de um indivíduo deslocar-se de um ponto para outro. A velocidade de deslocamento depende em grande parte do dinamismo dos processos nervosos atuantes no sistema motor e que tem como variáveis principais as fibras de contração rápida. Pode-se considerar a velocidade de movimentos dependendo de três fatores: amplitude de movimentos, força dos grupos musculares como fatores coadjuvantes, eficiência do sistema neuromotor como fator básico.


VELOCIDADE DE REAÇÃO

A velocidade de reação pode ser observada entre um estímulo e a resposta correspondente. Tem como base fisiológica a coordenação entre as contrações e as atividades de funções vegetativas criadoras dos reflexos condicionados. Assim como a velocidade de movimentos, a de reação está ligada diretamente a predominância das chamadas fibras de contração rápida. A melhor indicação para o seu desenvolvimento é o emprego de um número grande de repetições de exercícios de tempo que poderão provocar automatismos nos gestos rápidos visados.


AGILIDADE

É a qualidade física que permite um atleta mudar a posição do corpo no menor tempo possível. Deve ser desenvolvida desde o período de preparação física geral. O tempo é uma variável importante, o que evidencia a presença da velocidade na agilidade. A flexibilidade também é um pré-requisito para o desenvolvimento da agilidade.


EQUILÍBRIO

O equilíbrio consiste na manutenção da projeção do centro de gravidade dentro da área de superfície de apoio. Apresenta-se de três formas: Equilíbrio Estático, é o equilíbrio conseguido numa determinada posição, e não deve ser treinado em separado nas sessões de preparação física devendo fazer parte dos treinos dos gestos técnicos específicos do desporto visado; Equilíbrio Dinâmico, é o equilíbrio conseguido em movimento e que depende do dinamismo dos processos nervosos, e seu desenvolvimento é obtido pela aplicação de exercícios técnicos do desporto em treinamento, podendo ser trabalhado juntamente com os fundamentos técnicos da modalidade; Equilíbrio Recuperado, é a recuperação do equilíbrio numa posição qualquer e, embora deva ser treinado em conjunto com os gestos técnicos, muitas vezes se impõe um preparo especial paralelo pela evidência de uma deficiência dessa valência em atletas.


DESCONTRAÇÃO

Qualidade física neuro muscular oriunda da redução da tonicidade da musculatura esquelética, apresentandose sob dois aspectos: Descontração Diferencial, é a valência física que permite a descontração dos grupos musculares que não são necessários à execução de um ato motor específico, colaborando para a eficiência mecânica dos gestos desportivos, além dos atletas executarem as técnicas desportivas específicas com um máximo de economia energética; Descontração Total, é a valência física que capacita o atleta recuperar-se dos esforços físicos realizados, estando ligada a processos psicológicos onde tem como variável principal a mente.


COORDENAÇÃO

É a capacidade de realizar movimento de forma ótima, com o máximo de eficácia e de economia de esforços. Qualidade física considerada como um pré-rquisito para que qualquer atleta atinja o alto nível. Tem como variável condicionante o sistema nervoso. A coordenação possui graduações qualificadas como: elementar, fina e finíssima. A coordenação motora é muito exigida no futebol e seus vários elementos técnicos são aplicados em espaços reduzidos com oposição do adversário, com isso, suas ações devem ser realizadas em um pequeno espaço de tempo e nas mais diversas velocidades. Dentre as capacidades coordenativas, as mais importantes para o futebol são: capacidade de orientação, capacidade de adaptação e transformação dos movimentos próprios, capacidade de diferenciação, capacidade de reação, capacidade de combinação.

Identificação das Qualidades Físicas no Futebol
Qualidades Físicas Preparação Técnica Preparação Física
Flexibilidade - Secundária
Força Dinâmica - -
Força Estática - -
Força Explosiva - Imprescindível
Resistência Muscular Localizada - Importante
Resistência Anaeróbia - Importante
Resistência Aeróbia - Imprescindível
Velocidade de Movimentos - Importante
Velocidade de Reação Secundária -
Agilidade Importante -
Equilíbrio Estático - -
Equilíbrio Dinâmico Secundário -
Equilíbrio Recuperado Secundário -
Descontração Diferencial Secundária -
Descontração Total - -
Coordenação Importante -

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sexta-feira, 5 de junho de 2009

DIFICULDADES ENCONTRADAS NOS PEQUENOS CLUBES DE FUTEBOL PROFISSIONAL


DIFICULDADES ENCONTRADAS NOS PEQUENOS CLUBES DE FUTEBOL PROFISSIONAL
Prof. Ms. Fabio Aires da Cunha
Quando vemos na televisão, nos jornais ou em revistas o sucesso alcançado por clubes como o Cruzeiro e o Santos, a idéia que nos dá é que o futebol brasileiro possui uma certa estrutura e organização, mas a realidade é bem diferente.
Será abordado neste artigo o caso específico dos pequenos clubes do Estado de São Paulo. São Paulo é o Estado que possui a melhor estrutura futebolística do Brasil, mas está longe de ser o paraíso que muitos acreditam. O mais grave é que se a situação em São Paulo não é das melhores, no restante do país é muito pior, chegando a ser calamitosa em alguns lugares.
Voltando ao futebol paulista, a estrutura de seu futebol compreende uma centena de clubes profissionais divididos, em 2004, em cinco divisões.
Enquanto observa-se de um modo geral nos clubes grandes e médios uma situação relativamente satisfatória, com boa estrutura e bons salários para os padrões sociais brasileiros, verifica-se nos pequenos um quadro completamente oposto.
As dificuldades encontradas nessas equipes serão elucidadas a seguir.
Recursos Financeiros
Os clubes sofrem com a falta de dinheiro. Apesar do custo operacional, se comparado aos grandes clubes, não ser elevado, é muito difícil obter um patrocinador fixo que possa sustentar essa despesa. A cada ano que começa é uma nova batalha atraz de recursos e patrocinadores. Outro aspecto que contribui para essa falta de recursos é a inexistência ou inadimplência dos associados.
Elenco
A maioria dos clubes não consegue reunir um elenco que possa representar de forma competitiva e eficiente as aspirações dessa entidade. A cada ano que se inicia é necessário montar uma nova equipe, pois os clubes não mantêm seus jogadores ou quando muito, mantêm os jogadores da cidade. Muitos atletas ou não possuem uma boa capacidade técnica ou são completamente inexperientes. Isso acarreta enormes dificuldades ao treinador para montar uma equipe competitiva.
Material de Trabalho
O material utilizado para a realização do trabalho, que inclui bolas, uniformes de treino, cones, chuteiras, estacas etc., são fatores de fundamental importância na elaboração e realização de um programa de treinamento em qualquer clube de qualquer divisão. Bolas sem qualidade ou em quantidade inferior ao necessário; o mesmo com os uniformes de treino, que em muitos casos são utilizados ano após ano; falta de cones, estacas e cordas. É a realidade encontrada em muitos desses clubes. Existem casos de treinos que precisam ser cancelados ou alterados pela falta ou inexistência de alguns desses itens.
Acomodações
O alojamento é outro item que merece um destaque especial. Existem alojamentos com baixas condições de higiene; chuveiros sem água quente; iluminação inadequada; colchões velhos e estragados; inexistência de locais para os atletas estudarem, lerem ou se reunirem e, falta de locais para recreação, como sala de jogos.
Verificam-se casos de atletas que apresentam dores nas costas por dormirem em colchões estragados, ficam doentes por dormirem em locais úmidos e frios etc.
Alimentação
De fundamental importância para o desenvolvimento de um atleta profissional, a alimentação normalmente não é adequada e assustaria qualquer nutricionista da área esportiva. A variação dos alimentos, como frutas e verduras, normalmente não acontece. O preparo dos alimentos também não é da maneira mais indicada. É muito comum serem alimentos gordurosos e com muita fritura. Normalmente, os empregados responsáveis pelo preparo dos alimentos não estão preparados tecnicamente para fazer a alimentação de um atleta.
As condições de higiene da cozinha também estão longe das ideais. Se a vigilância sanitária fizesse uma fiscalização, a grande maioria delas seria fechada.
A alimentação desses atletas não é satisfatória em quantidade, mas principalmente em qualidade. Falando em qualidade é quase inexistente o uso de suplementos como vitaminas, aminoácidos etc.
Viagens
Com as longas distâncias existentes dentro do Estado de São Paulo, muitas equipes precisam viajar mais de dez horas para realizar uma partida. Em alguns casos as equipes chegam ao local do jogo, no dia da realização do mesmo, isso após viajarem cinco, seis horas. Os atletas dormem e descansam dentro do ônibus. O rendimento certamente será afetado.
Muitos desses ônibus não possuem a mínima condição para realizar esse tipo de viagem. São ônibus velhos e desconfortáveis. Uma curiosidade é que o ônibus quebrar durante o trajeto é uma situação comum enfrentada por essas equipes.
Instalações, Locais de Treinamento e Estádios
A prática mais comum é treinar no próprio estádio. Como foi elucidado anteriormente, os clubes não possuem recursos para alugar campos para treinar e muito menos possuem um centro de treinamento próprio.
Observam-se também campos de treinamento e jogo sem as mínimas condições, com gramados irregulares e esburacados; vestiários sem condições de higiene e espaço.
Os estádios são outros locais que não atendem as exigências do Estatuto do Torcedor. Não existem locais numerados; sinalizações adequadas; sanitários limpos e em funcionamento; conforto mínimo; segurança etc.
Salários
Esse é um aspecto que beira ao ridículo quando se trata de uma profissão, um esporte profissional e o maior esporte no Brasil. A falta de pagamento de salários ou benefícios é uma prática comum, isso porque os salários são baixos, próximos ao salário mínimo nacional. Muitos profissionais não são registrados ou o são com um valor irrisório.
A desculpa de que o clube não tem dinheiro para pagar altos salários, como acontece nos grandes clubes, não pode ser aceita, pois como já foi dito os salários são baixos.
Em parte, o problema dos baixos salários é culpa dos próprios profissionais que acabam aceitando qualquer proposta só para ter a oportunidade de trabalhar em um clube profissional. Com isso, não valorizam seu trabalho e muito menos sua profissão.
Recursos Humanos
Enquanto os grandes clubes têm treinador; preparador físico; auxiliares; médico; roupeiro (mordomo); enfermeiro (massagista); fisiologista; fisioterapeuta; assistente social e psicólogo, os pequenos possuem em muitos casos o mínimo, um treinador, um preparador físico, um enfermeiro, um roupeiro e só. Isso quando alguns poucos não assumem várias funções. Mais uma vez a desculpa é a situação financeira.
Outro problema é a falta de capacitação dos profissionais. Com baixos salários e falta de condições de trabalho, os profissionais que atuam nesses clubes, em muitos casos, não possuem capacitação adequada para o cargo que exercem e a responsabilidade que o mesmo exige.
Observam-se treinadores que não conduzem treinos adequadamente ou são verdadeiros ditadores com métodos de treinamento completamente ultrapassados; preparadores físicos que não evoluíram com os métodos científicos mais modernos e também utilizam métodos de treinamento defasados, isso sem falar de enfermeiros e roupeiros, normalmente indivíduos da própria cidade que precisam trabalhar, mas não possuem conhecimento para a função que exercem.
Os dirigentes deveriam buscar contratar profissionais realmente capacitados para as funções necessárias. Verificar a experiência e o conhecimento desse profissional, assim como é feito em qualquer empresa quando precisa contratar um novo profissional.
Dirigentes
Assim como em alguns grandes clubes, nos pequenos também vemos casos de dirigentes praticamente vitalícios e sem capacitação.
Existem dirigentes que não conhecem a realidade do futebol no século XXI e não se preocupam nem um pouco com a situação dos membros da comissão técnica e dos atletas.
A inexistência de dirigentes profissionais é outro fator que influencia negativamente na administração dos clubes. Os clubes são administrados de forma ultrapassada e amadora. A falta de um trabalho de marketing e de divulgação é um aspecto que atrapalha na obtenção de patrocínios, mas muitos desses dirigentes chegam a desconhecer o significado da palavra marketing.
Política
Assim como em todas as áreas no nosso país, os pequenos clubes de futebol também são influenciados pela política local. A escolha de dirigentes, de patrocinadores e até de participação em alguns torneios, podem sofrer influência de interesses políticos.
Categorias de Base
Quando aqui se fala em categoria de base, refere-se a escolinha, infantil (sub-15) e juvenil (sub-17), pois o juniores (sub-20) além de ser uma categoria quase profissional, todos os clubes do Estado de São Paulo são obrigados a disputar o Campeonato Paulista dessa categoria.
Com a falta de recursos financeiros, os clubes praticamente não investem na base e a grande maioria nem possui equipes dessas categorias. O pior é que os clubes não enxergam que uma das soluções para os problemas financeiros é justamente investir nos garotos. Já que não possuem dinheiro para contratar bons jogadores, a solução seria formá-los dentro de casa.
O que se vê são jogadores com idade de juniores que não possuem experiência, pois quando eram infantis e juvenis não disputaram torneios competitivos.
Novamente, volta-se a desculpa da falta de recursos. Enfatizo que um trabalho de marketing eficiente e direcionado poderia angariar recursos locais para esse trabalho, até porque é um trabalho de baixo custo operacional.
Educação
Não existe um projeto para a educação dos atletas. Muitos abandonam a escola por preguiça ou por acharem que não podem estudar e ser atleta ao mesmo tempo. Existe um total despreparo e desinteresse por parte dos dirigentes com relação à educação de garotos e adultos.
O lado social dos atletas também é deixado de lado. Muitos atletas apresentam problemas de conduta e convívio em grupo, chegando a ocorrer casos de furto e homossexualismo. O mais grave é que os clubes não demonstram interesse em ajudar a solucionar ou minimizar esses problemas.

Muitos garotos ao assistir a televisão e ver o sucesso alcançado no exterior por jogadores como Ronaldo, Kaká, Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Dida e outros, acabam se iludindo e não sabem a grande dificuldade que existe no início de carreira, principalmente em um clube pequeno. Esses garotos abandonam a escola pela chance de vencer no futebol, mas apenas uma minoria atinge o sucesso, a maioria infelizmente não consegue. Muitos acabam em subempregos e até na marginalidade, pois não se prepararam ou não foram devidamente orientados para buscar alternativas fora do futebol.
Acredito que a verdadeira profissionalização dos pequenos clubes somente ocorrerá com a mobilização conjunta dos Conselhos Regionais de Educação Física; prefeitos; empresários locais; dirigentes profissionais, capacitados e honestos; membros da comissão técnica com capacitação, conhecimento, devidamente preparados e credenciados em seus conselhos profissionais.
Quero salientar que essa situação é encontrada na maioria dos clubes, mas não em todos. Existem pequenos clubes que possuem uma boa estrutura, dirigentes e profissionais capacitados. A situação é que muitas equipes, infelizmente, estão falidas e sem uma liderança forte e competente. Encontram-se também clubes que alternam anos de total despreparo e falta de condições, com anos de boas condições e bom trabalho.
O futebol é uma paixão de nosso povo. Os clubes e seus dirigentes deveriam respeitar o cidadão que torce por uma bandeira ou distintivo e, principalmente, respeitar aqueles que procuram honestamente vencer por meio do futebol, inclui-se treinadores, preparadores físicos, atletas e demais profissionais.

Janeiro/2004

Pré-temporada


Medicina preventiva na pré-temporada

A medicina esportiva na pré-temporada:

Metodologia de trabalho e desenvolvimento do programa médico
O período da pré-temporada e aquele que antecede imediatamente, exigem dos profissionais envolvidos com a área de Saúde, um tempo maior de dedicação ao clube, em virtude do planejamento e execução de tarefas específicas de início de trabalho.

Metodologia de trabalho

Fase 1
• Identificação do atleta;
• Avaliação médica.

Fase 2
• Seleção de equipamentos de primeiros socorros e reabilitação;
• Seleção e aquisição de medicamentos;
• Estudo do suporte de atendimento de emergência;
• Pré-temporada.

Fase 3
• Orientação quanto aos aspectos nutricionais e de higiene;
• Palestras: doping, doenças sexualmente transmissíveis (DST);
• Suporte no tratamento e prevenção de lesões.

Desenvolvimento do programa de medicina esportiva

Fase 1 - Identificação do atleta
A identificação do atleta, nesta fase, se faz necessária pela heterogeneidade do grupo. É preciso estudar a faixa etária, diferenças geoculturais, experiência profissional etc.

Fundamentalmente, logo após a apresentação dos atletas, se inicia o processo de avaliação médica, cujos métodos utilizados são os seguintes:

• Anamnese completa;
• Exame clínico rigoroso;
• Exames laboratoriais (análises clínicas);
• Exames complementares de imaginologia;
• Exames de função cardiovascular.

Fase 2 - Fatores a serem considerados
Para o período de aproximadamente duas semanas, destinados à pré-temporada em que o grupo fica afastado do clube (serra, litoral, interior), seleciona-se o equipamento necessário para os primeiros socorros, os medicamentos mais utilizados e todos os aparelhos de fisioterapia que possam ser transportados.

Devem-se prever as enfermidades mais prevalentes da região e época da pré-temporada, bem como se certificar se todos os integrantes encontram-se atualizados com as vacinas (gripe, tétano, febre amarela etc.) e também se todos possuem cobertura por planos de saúde privados ou oferecidos pela própria instituição.

Fase 3 - A pré-temporada
Cabe ao médico, junto com a direção, identificar e manter contato com um sistema suporte de atendimento de urgência próximo ao local de treinamento e hospedagem para aqueles casos em que maiores cuidados e atenção devam ser dispensados.

O espaço físico ocupado provisoriamente pelo setor médico na pré-temporada, deverá ser de fácil acesso e do conhecimento de todos da delegação (ponto de referência), com uma área capaz de comportar massagista, fisioterapeuta e médico, com seus respectivos equipamentos de trabalho.

Muitos atletas ainda jovens e inexperientes desconhecem a atuação de um departamento médico e muitas vezes até evitam a proximidade com os profissionais da saúde. É justamente neste período que o vínculo de confiança pode ser estabelecido mais facilmente.

Orientações relativas ao aspecto nutricional, cuidados de higiene e prevenção de determinadas doenças (DST) são mais bem absorvidas pelos atletas em pequenas palestras com recursos audiovisuais, ou mesmo de maneira informal, individualmente.

As questões de dopagem no esporte e suas implicações e conseqüências, geradas muitas vezes por desconhecimento de regras, e a automedicação, são tópicos que devem ser enfatizados nessas ocasiões.

O cardápio e orientação nutricional, em alguns casos individualizados, são elaborados pela nutricionista, tendo em vista a programação de atividades estabelecida pela comissão técnica.

O médico (na ausência de um nutricionista), que acompanha a delegação assume, neste período, a função de controlar a qualidade das refeições e do cumprimento das recomendações determinadas, mantendo um contato diário com o responsável pela cozinha.

As suplementações energéticas, indispensáveis nesta fase, é também discutida e planejada conjuntamente entre nutricionista, fisiologista e pelos responsáveis pela preparação física, sendo ministrada antes ou após as sessões de treinamento, conforme critérios previamente determinados, sob a supervisão do médico da equipe (dosagem e paraefeitos).

Lesões mais freqüentes na pré-temporada

O rigor de início de um trabalho -a grande maioria dos atletas está retornando de período de férias ou inatividade- implica em uma solicitação do sistema músculo-esquelético que pode gerar lesões por sobrecarga.

As patologias mais comumente verificadas são as tenossinovites, as entesites, as dores na coluna vertebral (lombalgias) e as temíveis dores pubianas.

Embora de gravidade menor, as lesões nos pés, como as bolhas e calos, são freqüentemente observadas e podem prejudicar o desempenho em treinos coletivos e sessões de trabalho físico.

A pré-temporada permite aos médicos e fisioterapeutas observarem os atletas que necessitarão, durante o ano, de cuidados preventivos, para suportarem o calendário de competições, na maioria das vezes, intenso e irregular a que são submetidos.