Futebol e educação: como podemos utilizar a modalidade para o ensino?
O Brasil, apesar de ser o país com maior destaque no futebol, usa pouco o esporte para auxiliar na educação de crianças e jovens
Marcelo Iglesias
Uma iniciativa ainda pouco trabalhada é a utilização do futebol como uma possibilidade pedagógica por meio de uma proposta co-educativa. Usar a modalidade com uma intencionalidade pedagógica é compreender a enorme relevância social que esse esporte possui para os brasileiros, sendo criador de um sentimento de orgulho nacional.
Na tentativa de explicitar a importância da relação da pedagogia com o futebol, é interessante que iniciemos a análise tratando da brasilidade da modalidade (DaMatta, 1982; 1994). Prova dessa ligação ímpar que o povo brasileiro possui com o esporte são as páginas e páginas de jornal, horas e horas das programações de TV e rádios dedicadas às notícias e às análises sobre o tema.
“Utilizar o futebol como um instrumento de ensino, para ajudar a criança e o jovem a completar o seu desenvolvimento moral, é facilitado, no Brasil, porque nós temos vivência diária com a modalidade”, afirmou Tânia Leandra Bandeira, bacharel em Ciências do Esporte, mestre em Estudos Neurológicos e Psicológicos na Educação Motora e no Esporte e doutoranda em Educação Física e Sociedade, todos títulos concedidos pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Se é verdade que as partidas de futebol dos campeonatos oficias são espetáculos grandioso, tratados pela mídia como produto de altíssimo valor, também é verdade que a maioria dos jogadores brasileiros da modalidade iniciou suas carreiras nos mais democráticos jogos de várzea.
“O fato do brasileiro ver, ouvir falar, e jogar futebol no seu tempo livre, encaminha bem para o fato de que a população do Brasil gosta do jogar, gosta do jogo”, comentou Adriano de Souza, mestrado em Pedagogia do Esporte e atuante na área de Coaching Education na Illinois State University, nos EUA. “Acredito que a nossa cultura esportiva, e o fato de sempre assistirmos futebol pela TV, ou até mesmo no nosso bairro, faz com que tenhamos uma característica de gostar de jogar e de competir”, completou.
Ou seja, a relação do espectador é de intimidade, sensação provinda da familiaridade com o futebol. O que é encenado nas telas já foi muitas vezes encenado nos campos de terra, nas estreitas ruas de comunidades pobres, em terrenos baldios, etc.
Nenhum povo é reconhecido no mundo da forma como o brasileiro é pelo futebol. Nenhum país no planeta tem uma relação tão umbilical, formativa e existencial como a relação do brasileiro com a modalidade. O jeito brasileiro de jogar futebol mistura a ginga do samba, em que o jogar bem esteticamente, muitas vezes, é mais importante do que até mesmo ganhar a partida.
“Ensinar por meio do futebol é muito fácil no Brasil. O problema é lidar com os outros esportes”, comentou Tania. “Pode-se utilizar os diversos exemplos que se tem para trabalhar questões de motivação e de determinação, contando as histórias e contextualizando-as”, completou a pedagoga.
Se somos únicos no futebol masculino, estamos significativamente defasados no feminino. Vários países da Europa, além dos EUA, possuem uma cultura de futebol feminino muito mais amadurecida do que a em nosso país.
“O futebol feminino é pior onde existe a hegemonia do futebol masculino. Nos EUA, o masculino está correndo atrás do feminino. O Brasil possui uma boa seleção, mas muito poucas meninas jogam futebol no país. Na Itália, que também é um país que vive o futebol, não há muitas meninas jogando, em comparação com os EUA, Suécia, Finlândia e Noruega, por exemplo”, disse Adriano de Souza.
O número de participantes do sexo feminino, a cobertura da mídia, o apoio institucional e os próprios resultados de competição demonstram um grande descompasso entre homens e mulheres na modalidade.
“Aqui nos EUA, cerca de 90% das high schools têm futebol feminino. Muitas das meninas por aqui sonham em ir para a faculdade com bolsas de estudo para jogar futebol. Tem 330 universidades de primeira divisão, e mais várias de segunda e de terceira. No universitário deve haver, pelo menos, 500 equipes de futebol feminino”, contou o atuante em Coaching Education.
Os campeonatos regionais, nacionais, continentais e mundiais são uns dos principais motivadores da conversa cotidiana dos brasileiros. Praticamente todos debatem, analisam, sorriem e sofrem em conversas sobre os jogos de futebol.
Os jogadores, mais do que atletas, são representantes de multidões. Os artilheiros, semideuses, os goleiros vazados, traidores. Os técnicos, a depender dos resultados, transformam-se em grandes generais ou são dispensados. Tudo isso é frequentemente debatido nos lares, bares, escolas, favelas, mansões e em todas as partes do Brasil.
Sendo assim, o futebol pode ser uma forte ferramenta para a pedagogia, principalmente, dentro do Brasil. A identidade e a vivência cotidiana que a população possui com o esporte, é um aspecto que pode e deve ser explorado.
Apesar de algumas lacunas, como a falta de incentivo ao futebol feminino, a modalidade pode ser a solução e um vasto baú de exemplos dos mais diversos aspectos e conceitos encontrados em todas as atmosferas do cotidiano.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
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