segunda-feira, 13 de julho de 2009

A trajetória do treinamento desportivo: do empirismo ao cientificismo


Compreensão da evolução a partir de cinco períodos: da arte; da improvisação; da sistematização; pré-científico e cientifico
Fernando Ianni

A evolução do treinamento desportivo tem seus alicerces fundamentados na cultura grega. A necessidade de se organizar métodos de treinamento surgiu de maneira gradativa, sempre atendendo as necessidades especificas da época em que se vivia (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; HERNANDES JR., 2002).

O planejamento do treinamento naquela época (Grécia antiga) consistia em uma preparação geral com um misto de corridas, marchas, jogos, lutas, danças e uma preparação específica, onde os atletas trabalhavam com sobrecargas, como sacos de areia, pesos e pedras. O treinamento obedecia a uma rotina cíclica de quatro dias, que eram os chamados tetras, os quais eram repetidos indefinidamente durante toda a vida do atleta. Era o chamado “treinamento total”, feito pelos gregos há quase 2800 anos. A carga de treinamento era forte, e era comum o caso de mortes de atletas (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978).

Em 1896, com a retomada dos Jogos Olímpicos, atletas e treinadores retornaram aos treinos e buscou-se cada vez mais os métodos que visassem à melhora na performance física e técnica (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978). Segundo Pierre de Coubertin, citado por Hernandes Jr. (2002), o lema do esporte amador era “O essencial não é vencer, mas competir com lealdade, cavalheirismo e valor”. No início dos anos 30, Adolf Hitler utilizou os jogos de Berlim (1936) para divulgar sua ideologia nazista, organizando uma grande e eficiente infra-estrutura de treinamento para que através desse treinamento, eles obtivessem a maioria das medalhas disputadas. Este foi o primeiro relato de treinamento desportivo visando à competição.

A evolução do treinamento desportivo pode ser dividida em cinco fases para melhor compreensão: A) Período da Arte; B) Período da Improvisação; C) Período da Sistematização; D) Período Pré-Científico; E) Período Cientifico (TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

O Período da Arte compreende os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga a partir de 776 a.C. até as primeiras olimpíadas da era moderna em Atenas em 1896. Os treinamentos eram conduzidos de uma forma global. Esses treinamentos eram baseados em experiências subjetivas de cada treinador. Os conteúdos eram extenuantes, tinha-se a idéia de que quanto mais difícil for o treino, mais dor o atleta sentir, melhor. Um relato dizia que os gregos usavam algumas poções elaboradas com ervas, para aumentar o rendimento físico de seus atletas.

O Período da Improvisação inicia-se com a primeira olimpíada da era moderna em Atenas em 1896 e termina na sétima olimpíada da era moderna em Antuérpia em 1920. Nessa fase, começou a surgir a necessidade de se estruturar o treinamento e compreender os resultados que se obtinha através desse treinamento.

O Período da Sistematização se caracteriza pela revolução das estruturas da teoria do treinamento que o finlandês Lauri Pihkala propôs, que era o “treinamento intervalado”, onde alternava-se o treino de distâncias curtas com intensidade forte e intervalos longos para recuperação. Os atletas finlandeses chegavam a treinar três vezes por dia, onde o local Paava Nurmi, em 1920, surpreendeu a todos ao correr com um cronômetro para controlar o seu ritmo, e seu treinamento consistia no “treinamento duração”, com marchas, e corridas de longa distância e no “treinamento tempo”, utilizando o trabalho intervalado. E através de seu método de treinamento, Paava Nurmi obteve 22 recordes mundiais, 10 medalhas olímpicas, sendo sete de ouro e três de prata. O alemão Krummel, a partir de 1920, sistematizou o treinamento através de alguns estudos. Finalizando esse período de 1920 a 1930, a escola sueca associou à velocidade, ritmo e o endurance, integrando os treinamentos em uma única sessão. O sueco Bosse Kolmer desenvolveu o sistema fartlek (jogo de velocidade). Esse sistema era feito através de trabalhos de corrida mediante a resistências naturais, como corridas na areia, bosques, ladeiras. O sistema compreende a alternância entre corridas rápidas e lentas, utilizando o descanso ativo e controlando o tempo de treinamento (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

No Período Pré-Cientifico (1930 a 1950), vários estudos foram feitos a respeito sobre as variáveis envolvidas no desempenho físico. Algumas propostas de Waldemar Gerschller e Waitzer (1933) recomendam a utilização de pistas ao invés de corridas na praia, bosques, como defende o fartlek, e a utilização de sessões mais curtas e da utilização de corridas de velocidade. A partir de 1942, o alemão Toni Nett estabeleceu normas de execução para outras formas de treinamento, sobressaindo-se o “time-trainning”. A maior contribuição desse período é a criação do treinamento intervalado (interval trainning) realizado por Toni Nett junto com o tcheco Kerssenbrac. Esse tipo de treino se caracteriza pelo uso de distâncias entre 200 e 400 metros, com alto volume de treinamento, chegando a 70 repetições, com intervalo de descanso de um minuto, quando o atleta realiza o repouso ativo (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

As pesquisas científicas realizadas por várias escolas notaram que o trabalho intervalado na década de 50 permitia que outros treinadores confirmassem que o princípio do treinamento intervalado era eficaz no preparo físico dos atletas de alto nível. Neste período, métodos de musculação, diferentes sistemas de treinamento (estabelecimento de diferentes objetivos de treinamento, proposição de tabelas de trabalhos, organização e estruturação de temporadas, preponderância da intensidade sobre o volume de treinamento), pesquisas sobre fisiologia do esforço, se tornaram cada vez mais comuns (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; DANTAS, 1998).

O Período Científico começa a partir de 1950 e vai até os dias atuais. Pesquisas científicas realizadas por Gerchller e Herbert Reindell fundamentam e comprovam a eficácia do treinamento intervalado. A hegemonia do treinamento intervalado perdurou até os Jogos Olímpicos de Roma em 1960, onde duas escolas se consagraram: australiana e neozelandesa. A australiana mesclava o time-trainning com o treinamento total, enquanto a neozelandesa criou o “marathon trainning”, cuja característica era um treinamento com altíssima intensidade, onde os atletas para treinarem percorriam até 160 quilômetros por semana (ANDRADE, ROCHA, CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002).

Segundo Mollet, pode-se dizer que não basta apenas ter um excelente treinamento tático, técnico e físico, cabe também ao atleta procurar aperfeiçoar o seu preparo, através de bons hábitos de vida, alimentação adequada. Segundo o treinamento de Raul Mollet, cada pessoa possui uma bagagem genética, que irá determinar suas potencialidades físicas e psicológicas para a prática de determinado desporto. Para que o individuo atinja o seu alto rendimento em determinado esporte, é necessário que ele tenha características acima do normal que o destaque dos demais indivíduos. E para treiná-lo é necessário aplicar um treinamento adequado (DANTAS, 1998; HERNANDES JR., 2002).

O enorme desenvolvimento tecnológico permitiu e vem permitindo aos treinadores e preparadores físicos o acesso á uma série de informações que o influenciam positivamente, para melhorar o desempenho do atleta. É notável a constante evolução tecnológica no que se refere a métodos de avaliação e controle de treinamento, como, por exemplo, os monitores de freqüência cardíaca, que possibilitou aos treinadores e preparadores físicos monitorarem a freqüência cardíaca do atleta durante todo o treinamento, e assim obter através do processamento de informações a demonstração do aproveitamento efetivo de cada sessão de treinamento e suas exigências fisiológicas. Outros aparelhos como o esfigmomanômetro (aferidor de P.A.), esteiras, bicicletas ergométricas, transports, elipticons, aparelhos de musculação, ergo-espirômetros, aparatos para realização de testes físicos e metabólicos e outros aparelhos que contribuem muito com os profissionais que trabalham com treinamento esportivo (TUBINO, 1979; DANTAS, 1998; HERNANDES JR., 2002).

Devido à constante evolução da tecnologia em prol do esporte como um todo, a vitoria não é mais suficiente em algumas modalidades esportivas. Hoje em dia o que interessa é a quebra de recordes. Em conseqüência disso, originou-se os atletas de laboratório, onde várias pesquisas são feitas a fim de se aumentar a capacidade e performance física. Para isso, têm-se as inúmeras pesquisas da Fisiologia do Exercício e dos Recursos Ergogênicos. Para conseguir quebrar recordes, algumas medidas básicas ainda são válidas, como ter uma alimentação adequada, uma assistência médica permanente, um descanso apropriado e claro, um treinamento eficaz.

Bibliografia

ANDRADE, P. J. A.; ROCHA, P. S. O.; CALDAS P. R. L. Treinamento desportivo. Brasília: MEC/DDD, 1978.

DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. Rio de Janeiro: Editora Shape, 1998.

HERNANDES JR, B. D. O. Treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Editora Sprint, 2002.

TUBINO, M.J.G. Metodologia cientifica do treinamento desportivo. São Paulo: Editora Ibrasa, 1979.

Um comentário:

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